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A mostrar mensagens de janeiro, 2013

Esse lugar que é dançar.

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Pediram-me que escrevesse. Para uma aula de dança contemporânea. Não me disseram para escrever sobre dança. Mas em jeito de batota, eu sei que vou dançar aquilo que escrever. Por isso, faço uma capicua deste exercício! Quando danço liberto a alma dorida. Aquela que está cá dentro escondida e que até aqui não sabia falar. Dei-lhe uma voz, a voz do corpo. Mas quando danço, também dou espaço àquilo que existe em mim de melhor. Solto a luz que existe em mim, deixo-a esticar os braços, espreguiçar-se e brilhar. Na dança não estamos fechados em gaiolas de definições, dicionários, estruturas de frases. Criamos significados em cada novo movimento, como um quadro que nunca termina de ser pintado. Expressamos o que vai cá dentro e que por vezes não tem nome. Rasgamos o que existe e começamos de novo... A dança dá-nos um sítio para onde ir. Liberta-nos dos vernizes que nos tornam rígidos, inflexíveis, todos iguais. Dá-nos tempo para encontrarmos o murmúrio do nosso próprio movimento. Ensin

A desilusão...

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... chega de mansinho, entra-nos pela porta do coração sem a fazer ranger. E parte-nos qualquer coisa cá dentro. Talvez a própria porta, por onde entrou e por onde volta a sair, quando terminou de fazer todos os estragos. Ao sair, faz bater a porta com força. Anuncia a sua partida, mas é como um eco. Continua a fazer-se sentir, tempo depois, como um gongo. E assim ficamos, arrumando a casa com música ambiente. Ficamos a braços com uma porta que fecha mal e que é preciso reparar; que nos provoca uma ventania desgraçada no coração, desarrumando a papelada toda! A desilusão é sempre a preto e branco. Não sei porquê. E é sempre maior, quanto maiores forem as expectativas que se alimentavam. Por isso, é uma faca de dois gumes... Assim um bocadinho como um quadro de forma indeterminada. Olhamos para ele, rodamo-lo em todos os sentidos possíveis, tentando compreendê-lo, mas não conseguimos decidir qual é o lado de cima ou de baixo. Por onde devemos pendurá-lo, para que não caia da pare

Será que...

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... uma pequena gota de água, enfileirada no oceano ao lado de milhões de irmãs suas, consegue contrariar a corrente? Se pegarmos num copo de água [não interessa se o vêem meio cheio ou meio vazio, nesta experiência dá igual!] e o agitarmos na nossa mão, as gotas de água formam um uníssono e movem-se na direcção por nós impulsionada. Não me vou alongar sobre leis de física (sobre as quais nunca entendi mais do que o essencial), nem filosofar sobre a possibilidade de uma gota de água ou até mesmo uma lágrima poderem ter vontade própria ou personalidade, ao estilo de uma fábula. Pergunto-me só se a vontade de uma dessas gotas, lá enfiada ombro-a-ombro com as outras, será suficiente. Para resistir à tendência,  ao movimento de sempre. Mais fácil é, certamente, acompanhar a força maior. Mas será possível ir no sentido oposto? Hoje, durante esta minha experiência, podia jurar que vi duas ou três gotas a saltarem mais alto, descrevendo um arco e aterrando na borda oposta do copo. E pe

Regresso ao que é essencial.

Recomeçar exige abdicar. De peças que achávamos indispensáveis ao puzzle, m as que afinal nunca lhe pertenceram. Ou que simplesmente deixaram de servir... Limpar o quadro. Sem negligenciar traços de giz, apenas por nos parecerem especialmente bem desenhados. Reaprender a necessidade de silêncio. Para afinar as agulhas, de volta ao caminho para dentro . Ouvi algures que quando nos perdemos do caminho original, isso também é parte do caminho. O que faz sentido, se pensarmos que essa história de existir um único caminho é uma ilusão! Uma fantasia, que só nos causa problemas... porque nos pressiona para mostrar resultados e nos faz perder o sentido da viagem . Eu quero namorar a minha viagem. Quero conhecê-la dia a dia, sem a tomar por garantida. Quero agarrar cada passo meu. Porque venho descobrindo que os passos mais importantes não são necessariamente seguros e definitivos. Dói, quando voltamos atrás num passo que foi difícil de dar. Ou quando passamos muito tempo sem avançar. Da

O orgulho da nação.

És cheio de ti. A bem dizer, o mundo não parece existir fora desse teu umbigo perfeitinho. Chamas amigos a pessoas que mal te conhecem. A quem não te dás. Com quem só és capaz de te relacionar através de intermediários como o álcool e semelhantes. Através dessa muleta, és já capaz e competente. Tiras fotografias, abraças-te, chamas "mor", "babe" ou outras coisas ainda menos legíveis. Mais frequentemente de noite, aos saltos numa discoteca da moda, onde ironicamente a luz, a essência  de uma pessoa não se consegue ver. É nesse reino que te moves à vontade. Onde não há silêncio, nem preocupações. Apenas desinibição, descontração e música ensurdecedora, a encobrir a naturalidade que é pensar. E mentes embebidas em álcool que, já se sabe, cometem as maiores tolices, riem de parvoíces. É divertido ser assim. Estar na moda, estar dentro de qualquer coisa - nem que seja da futil tendência para destruir os neurónios noite após noite, como forma de bloquear o processo de

Tambor.

Saudade. Quando olhamos para trás, sentindo a falta do nosso rosto mais enxuto e de sorriso sempre pronto. Do corpo menos frágil, mais fácil e espontâneo. Da agilidade da gargalhada, da inocência encontrada nos sabores da vida. Sim. Falo de ser criança . De me fechar no quarto a brincar com peças miúdas para as quais inventei histórias e vidas. De me demorar uma hora no banho de imersão, brincando com tartarugas ninja que afinal sabem nadar, e animais marinhos não identificados que me transportam para o universo (para mim, realíssimo) do fantástico. Acordar com a nítida preocupação de ter de comer iogurte. Filosofar, chegando ao ponto das rugas de expressão, sobre o que poderá ser o almoço. Ou sobre a possibilidade de comer gelado no fim. O rigoroso estudo dos desenhos animados, concluído através de um vigoroso debate sobre o assunto com a minha irmã, frequentemente terminando mal. E esquecido, cinco minutos depois. Há dias em que a melancolia parece uma batida de fundo. Como um t

2Q13

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Os anos novos que vão chegando sempre têm um efeito " clichet " sobre mim. Esse movimento quase robótico de tomar decisões revolucionárias de mudança, em sintonia com o ano que acabou de mudar também. E adicionalmente, o instinto artificial de que se trata de um prenúncio - de que é o momento certo para empreender esta mudança. Não estou bem certa de que seja apenas isto, no meu caso e nesta passagem de ano específica. É que 2012 foi o ano da colisão. Há 27 anos que eu vinha construindo um castelo na areia. E tal como em miúda, fiz mal os cálculos. Estava demasiado perto da linha do mar, tratando-se apenas de uma questão de tempo até que viesse tudo literalmente por água abaixo. " (...) Já passou, desgastei, para lá do fim... (...) ". Acontece que hoje sei que isto era necessário. E quero reconstruir o meu castelo. Como princesa da minha vida que sou, preciso de ter onde morar. A mudança vai começar aqui mesmo, no meu espaço de escrita. Onde eu só ocasionalmen