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A mostrar mensagens de junho, 2017

Mesmo que isto seja um texto de merda.

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É preciso insistir, dizia-me um passarinho hoje. É preciso, mesmo em dias cinzentos, insistir. Abraçar a frustração de não conseguir escrever. Sentarmo-nos com ela a fumar um cigarro, encará-la, deixar que nos dissolva a paciência, e vai daí escrever alguma coisa; qualquer coisa. Pode ser que daí surja zanga, mais zanga ainda, porque ao reler percebemos: "isto está mesmo uma merda!". E pega-se nessa zanga avolumada, nessa trouxa sem jeito, nesse molho de brócolos mal enjeitado, e escreve-se outra vez. Zangados e tudo; a fumegar, se for preciso. "Tal como andar de bicicleta", dizia-me o passarinho, "se não praticas durante muito tempo, a atrapalhação não quer dizer que tenhas deixado de saber andar. Mas não convém atirares-te por uma rampa abaixo, depois de teres passado muito tempo sem andar. Começa devagarinho." Aceita o ziguezaguear da bicicleta como teu. Como natural, e como temporário. Irrita-te com isso, se isso te fizer mexer para mudar. Mas nã

Sentir.

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Hoje levantei-me e estava calor. Há vários dias que o calor não amaina; as paredes não arrefecem, o corpo não tem sossego. Tomam-se dois e três banhos num dia, para tentar aplacar esta inquietação. Tudo está demasiado quente: a sopa está quente; o computador está quente; a casa está quente; a rua, a roupa, o corpo - que irritação, sentir que tudo está quente. E lá vamos nós, na nossa agitação, reclamando pelo caminho, no meio do trânsito; reclamando das pessoas com quem temos de falar, ou daquelas que não falam connosco. Passamos o dedo pelo telemóvel e verificamos "gostos" em publicações, como se verificássemos abraços ou carinhos. É difícil sentirmo-nos gratos, com a pressa dos dias. Não nos confortamos com o rumo que o dia está a levar, ou mesmo os dias em geral. Sobra-nos pouco, pelas nossas contas. Queríamos mais. E depois há pessoas que acordaram num dia como estes, nossos, sem saberem como é que ele iria acabar. Sem saberem que seria o último carinho, a última