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A mostrar mensagens de novembro, 2016

Reflexões do caos

Há um enlouquecimento puro nos dias. Repararam? Corremos da cama para o trabalho; só paramos para nos olharmos ao espelho de forma a garantir que não estamos ridículos (com alguma madeixa de cabelo no ar, com um olho borrado de maquilhagem), em vez de ser para nos apreciarmos e cuidarmos de nós. Engolimos um café a ferver pela goela abaixo para garantir que as poucas horas de sono que nos permitimos nos darão a tolerância suficiente para a quantidade de absurdos que teremos de enfrentar ao longo do dia. Vociferamos nos nossos carros, com os outros condutores; irritamo-nos com quem está a fazer o mesmo que nós faremos uns metros à frente. Bufamos, dizemos asneiras, ou simplesmente ficamos tensos. Caminhamos todos, qual rebanho, na mesma direcção - cada um em seu carro, a gastar o seu próprio combustível. Se procuramos alternativas de transporte, somos frequentemente lixados com f* grande - ou porque não compensa em termos de preço, ou em termos de tempo, ou porque simplesmente nã

Birra.

O som lá para baixo deve estar uma loucura, dizia a boca à cabeça. Referia-se ao salão onde estava o coração. Aqui por cima tudo bem, continuava a boca. E no entanto falava sussurrando, com medo de provocar dores à cabeça. Porque tudo se trata de diplomacias, por vezes até de paninhos quentes; porque em certos dias não se resolvem os medos, só se seguram, com as pontas dos dedos. Como quem diz, mal e porcamente. E o coração é o primeiro a sentir tudo - o primeiro a reagir, a pôr os pés à parede. Literalmente pontapeando as paredes da caixa, como um bebé muito crescido para a barriga da mãe. E quando isso acontece, há que escolher boa música, pôr o banho a correr, ferver água para o chá, escolher a roupa mais confortável e com mais paciência nos bolsos. E não ter pressa, não ter barulho, não ter nada. Decidir não ter absolutamente nada, a não ser tolerância para com a birra de dentro. Que há de passar. Ah pois vai.

Não soa ridículo, se for uma árvore em vez de uma pessoa?

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Mais um ciclo. Mais algumas portas fechando-se; o olhar poisa sobre elas, meditando, procurando não fazer juízos de valor. Determo-nos lá atrás é sempre um risco; não só porque aquilo que doeu nos paralisa, mas igualmente porque aquilo que soube bem, teria certamente alguma razão de ser, se ficou para trás. O Outono vai-se instalando - este ano, com particular delicadeza. Parece querer vincar o facto de ser diferente do Inverno - assim como um irmão mais novo que se esforça para se destacar do outro, ainda que saiba que, no fundo, são terrivelmente parecidos (e que isso nada tem que ter de terrível... mas adiante). Cresce-se-nos, vinda sabe-se lá de onde, uma energia especial para limpezas e mudanças, nesta altura. É isso e Janeiro, com as resoluções. Há trocas de roupa, abraçando tecidos e formas mais aconchegantes, mangas mais compridas. Aproveitam-se os dias de sol para lavar e arejar, para armazenar em frasquinhos o que sobra de calor. Despedimo-nos das roupas leves num "