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A mostrar mensagens de dezembro, 2010

As asas que eram minhas

Sentava-me na praia. Todas as tardes. Achei sempre, na minha humildade entrecortada, que só aquele pedacinho de praia me dizia respeito. Calcorreava os habituais quilómetros até à praia, parte pelos montes, e o resto pelo paredão. Corria numa parte do percurso, de música em jeito de parada militar. O que me fazia correr sempre, todos os dias, era a imagem da minha praia ao fundo. Por esse bocadinho de mim eu ansiava, e por ele me esforçava. Era o bocadinho do dia em que estava sozinha. Sem problemas de outrém às costas. Sem preocupações, sem outras vozes nem tudos ou nadas. Só eu. Chegava suada, exausta. Mas com um sorriso. Sentava-me sempre na mesma duna, como se de lugar marcado se tratasse. Com o mesmo rigor que distingue a cadeira M-12 da M-13. Sempre no mesmo lugar. Um ritual, imaginam. A música aqui já não interessava. Procurava só o som do mar. Da minha solidão a acompanhá-lo, como um tambor que fica ao fundo. A cabeça esgotava-se de pensamentos, muitas vezes tendo que me obriga