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A mostrar mensagens de dezembro, 2016

Vai e beija o mar por mim

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Ela foi e pediu-lhe. "Beija o mar por mim." Nunca mais poderia voltar ao mar. Não àquele; não àquela praia. Que tristeza tamanha. Deparava-se com uma imensidão de nada, de vazio. No peito gritava uma sensação de injustiça. Não poder tornar a uma casa onde se foi tão feliz. Onde nos redescobrimos, onde fizemos outros felizes. Como quem fez algo de errado. A frustração de saber como é raro sentir assim. Aqueles instantes que queremos agarrar para nunca largar, "é isto mesmo", "estou no sítio certo", "quem me dera que nunca acabasse". E depois ter de largar tudo; pegar fogo ao que se construiu, ao que se foi; ter de fugir e começar de novo. Um dia houve medo. Medo de nunca mais conseguir ordenar aos dedos que se juntassem em equipa para escrever. Por momentos pareciam ter deixado de lhe dar ouvidos. Medo de ser agora irremediavelmente incompleta. Medo do seu coração, que enfim revele ter passado a ser de pedra; sem sonhos, sem calor, apen

Fio.

São duas almas, nada mais. Quando a noite chega e abraça tudo, mantendo-se apenas longe do calor dos candeeiros de rua, eles são só mais duas figuras, dois semblantes de uma espécie que existe em demasia. Da qual não deveria existir tanto espécime, digamos assim.  E mesmo se decidirmos aproximar-nos para ver mais de perto, não descobrimos à partida nada de extraordinário. Não são muito grandes nem adoravelmente pequenos; não brilham, não têm nenhuma característica que os coloque ao nível do extraordinário. Mas algo no meio deles brilha. Um fio invisível que os une, esticando-se e encolhendo-se, mas nunca quebrando. Um fio de luz que atravessa paredes e distâncias, uma ternura capaz de aguentar dias sem comer. Um sorriso que se distingue dos outros todos. Como duas mãos que se dão sem se darem, não fisicamente; duas mentes ligadas ao nível do extraordinário. Duas almas que apagam a palavra fim e colocam um infinito, ou pelo menos um enorme ponto de interrogação, ao final da est