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A mostrar mensagens de setembro, 2010

A plantinha que sou.

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Algo vai mudando. Algo em mim vai crescendo, devagarinho. Imagino-o como um pequeno rebento, uma pequena plantinha que vai desabrochando do solo, quase invisível. E um dia, quando o sol lhe toca, ela já mostra uma tímida folha verde. Dois dias depois, já rebenta mais uma ou duas folhas. E assim, com a timidez dos primeiros passos de uma criança, vai-se revelando. E é bonita! Pequena, igual a tantas outras, mas ao mesmo tempo, fascinante na sua idiossincrasia. Somos, sem dúvida, únicos. Um misto de coisas nos foram tocando, alimentando, a uma vez amarrotando ou protegendo. E isto somos, hoje. Temos coragem para nos vermos ao espelho? Para aproximarmos a cara até ver bem fundo, lá para dentro da máscara exterior, e tocarmos naquilo que o nosso íntimo esconde? E brincamos com esses bocadinhos de nós? Conhecemo-los, mesmo de olhos fechados, apenas tacteando? Ou será que temos medo, e nos deixamos levar pela segurança do que os outros (pensam que) sabem sobre nós? É mais confortável, cert

A verdade sobre o voar

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Estava um velho sentado no jardim, de costas arqueadas como se o mundo concentrasse em si todo o seu peso. Da sua boca saíam apenas murmúrios, de queixumes e arrependimentos, de sonhos frustrados e coisas por fazer. Parecia dizer: "Devolvam-me, tudo o que eu não pude ter, dêem-me, agora, tudo o que vocês têm a mais do que eu. Se vocês têm, porque é que eu não hei-de ter?!" "E o mundo, que não acaba?! E eu aqui sentado, sozinho, porque ninguém se quer sentar comigo, ninguém tem tempo, ninguém gosta de mim!" Um menino passava pelo banco de jardim, de mão dada com a sua mãe, e levava consigo um redondo balão vermelho. Ao ouvir o velho, que resmungava em arquejos sem se dirigir a ninguém (e com isto, dirigindo-se a todos), o menino parou, largando a mão da mãe, e colocou-se de frente para o velhote. "Senhor, mas porque é que não se levanta e não vai atrás dessas pessoas, que diz que queria ter ao pé de si? Elas não podem adivinhar que está aqui! E pelo caminho, pro

"Ele há dois caminhos..."

Atravessa-me o medo de aqui voltar. Ao mesmo tempo, uma necessidade em forma de bola se vai avolumando no peito, tornando insuportável mais um minuto sem escrever. O tempo também não tem deixado, ainda que muito dele se perca, dizem, em cafés, em sonhos adiados, em devaneios. A dor de cabeça arrasta-se, como uma corrente pesada e barulhenta, não me deixando pensar. Uma pausa no trabalho e no esforço permitiu-me, ao afastar-me, sentir-me grata. Perceber, analisar, compreender que tenho tanta coisa boa na minha vida. Que finalmente cheguei a um momento de portas abertas, de possibilidades e de pontes. Reconheci-me de cabeça levantada ao espelho. Reconheci-me amada, mais forte, mais minha, e por fim, mais independente. Vi-me cantar para mim própria, pelo prazer de me ouvir. Entretanto, como não podia deixar de ser, recebi uns pontapés. Umas vergastadas injustas de um lado, uns sermões mal dirigidos do outro. Porque tudo o que é bom e se diz forte, tem de ser necessariamente posto à prova.