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A mostrar mensagens de julho, 2020

O meu poema

Abandonei a minha casa, o meu peito. Sabe Deus há quanto tempo. Só sei que era ainda catraia. Estava demasiado calor cá dentro. Abandonei tudo e parti em busca de olhar para fora. E assim tem sido esta viagem, longa como o transiberiano - por vezes igualmente árida -, colada à janela, agarrada ao bilhete com as unhas. Com medo. Medo de perder a minha estação. Medo de não ver tudo o que haja para ver de bonito. Medo de tirar o lugar a alguém que precise mais do que eu. Fui também dedicando cada vez mais a viagem a trabalhar. Para os outros. A servi-los, a tentar antecipar-lhes a sede e as vontades, a trazer aquela almofada extra que nem sabiam que precisavam. À custa de me voltar para fora, mantive-me ocupada. Mas isso já não chega. Continua calor cá dentro. E eis que recebo o telegrama a dizer que tenho de voltar para casa. A minha casa está a arder. E só eu posso combater esse fogo. Voltar para casa quando já nem sequer sei o caminho de cor, para lutar uma batalha que não sinto ser mi