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A mostrar mensagens de setembro, 2007

Viagens dentro de mim

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Sei que cheguei aqui sem nada, sem bagagens nem vestes que me cobrissem a vergonha. Exposta e à deriva, com as mãos a tapar-me em vão os segredos, sabendo que seria uma questão de momentos até que toda a minha alma fosse um espelho para o mundo... E sentei-me no canto mais perto do canto da sala, na zona mais escura, para que a penumbra me cobrisse os defeitos e as fragilidades. E esperei... esperei que a vergonha se desapegasse de mim, que os pontos fracos se fortalecessem e as memórias más se descolassem do pensamento. Rezei numa oração minha, ao Deus de todos, em que eu não acredito. Pedi-lhe um chuveiro gigante, um mar inabalável que me engolisse e na sua água levasse todos os meus pecados, tantos e tão tristes. E que no fim desse banho eu pudesse ser alguém melhor, mais grata e serena, mais estável e bonita. Deixa-me só o sorriso, Deus, nua e só de sorriso... Mas nada aconteceu. Nenhum milagre para me levantar da poeira, nenhuma novidade no meu coração. Senti que a viagem fora per

Os três dias

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Escolhemos momentos para viver , para sorrir e para existir o menos possível . Temos dias sem importância, que discorrem como gotas de uma torneira apenas ligeiramente avariada, mas cuja avaria já conhecemos de cor e nos dá algum conforto. Já nos é familiar o som das gotas a tocarem na loiça, e sentimos a sua falta quando não está lá. É rotina, sim, mas é nossa. Conforta-nos e faz-nos saber que estamos em casa. Eles vão beber café ao mesmo sítio, todos os dias. Ele entra à sua frente e pede dois cafés, um deles curto. Sabe que ela só gosta do café curto. Há alturas e palavras que nos saem de uma boca com sorriso rasgado, apetece-nos beijar tudo e todos, especialmente o objecto do nosso afecto. E isso é bonito, tem um cheiro suave a perfume de verão, sem pretensões a ser mais nem menos: há alegria em ser quem somos, e apetece-nos gritar isso mesmo ao mundo! "Fazes-me feliz, sabias?" "Sabia! Mas podes dizer outra vez, que eu gosto tanto de ouvir..." E há dias que ex

Exercício: ser outra pessoa

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Já vivemos tanto... os anos passaram e continuamos juntos, às vezes sem saber dizer porquê. Encostaste-te a mim, e eu deixei. Ou se calhar fui eu, não sei. Já foi há tanto tempo... Sei que tudo começou com uma das tuas gargalhadas estridentes. Às vezes um sorriso não passa disso mesmo... de um sorriso. Como aqueles ataques de riso que nos dão nos momentos mais inoportunos, fazendo de nós os maiores idiotas do espaço circundante. Embora saiba bem perder o controlo... Mas o teu não é nada disto. A tua gargalhada nunca parece despropositada nem inoportuna, mesmo que te rias de algo sem graça. A tua gargalhada é sempre tão bem-vinda como uma boa notícia, é fresca e feliz. Quem te ouve rir tem vontade de ser feliz. E foi assim que reparei em ti, com um casaco já sem dois botões, e umas calças de ganga demasiado lavadas e gastas, com o cabelo negro caído em madeixas sobre as costas, e a cara sem maquilhagem. Já te conhecia dos teus dias bons, quando eras, no meu pensamento, uma deusa de sor