Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2016

Alice e as escolhas

Imagem
De repente ela é uma Alice. Há pedaços de bolo, todos de aspecto apetitoso; uns fá-la-ão sentir-se e/ou tornar-se) pequenina; outros talvez sejam só saborosos. Da mesma forma, frasquinhos de conteúdos variados e brilhantes alinham as suas barrigas transparentes à frente dos seus olhos. Entre eles, haverá com certeza um que a transformará numa menina gigante (ou numa mulher?); outros quiçá lhe providenciem acessórios especiais - uns fartos bigodes, orelhas animalescas. “Alice: Would you tell me, please, which way I ought to go from here? The Cheshire Cat: That depends a good deal on where you want to get to. Alice: I don't much care where. The Cheshire Cat: Then it doesn't much matter which way you go. (...)" 'Am I to be trusted?', the new Alice thought. 'Trusted that I will somehow take the right direction?' By which she means she will eventually have to find out exactly what 'right' means, in her case. A nova Alice vê-se a braços com

Caminho para a ilha

Imagem
[Tenho medo do que me possa acontecer.] Mansa e silenciosa, uma onda vem poisar aos meus pés. Não se anunciou de forma turbulenta, como as outras. Mas de alguma forma (talvez devido à sua discrição), foi a que chegou mais longe. Foi a que subiu mais alto, foi a que docemente se entranhou pelas minhas pernas acima, e deixou as suas dedadas geladas algures no meu pensar. Foi sem dúvida a mais perigosa; não a vi chegar. Conturbados tempos se atravessam, neste 2016. Um conturbado que deverá culminar em bom, assim se espera o balanço. Mas o tempo é mesmo de desequilíbrio - entre as ondas que não se ouvem e as que levam tudo à frente -, e há que ser paciente. Mas todos sabemos o desatino que é, querer caminhar direitinho na areia - simplesmente impossível. Abracei o meu jeito desalinhado de caminhar. Fiz pazes com as partes de mim que caminham assim. Habituei-me de tal forma que agora caminho descalça no asfalto, esqueço-me das maneiras do antigamente - das maneiras dos outros. As m

Palavras, leva-as o vento.

Encontrar a coragem para dizer as palavras que têm de ser ditas. Ir buscá-las ao canto mais triste que existe em mim - um canto pequeno, onde nadam em espiral as poucas coisas de que desisti na vida. Enfim, tropeçar nas palavras, com a calma de um condenado que sabe que vai morrer, mas que ainda assim acredita em milagres. [conversa interior] Não devia ser assim, pois não? Mas penso em ti. Penso em tudo o que está para vir. Não posso fazer-te feliz. Não tenho o  que procuras, o que precisas. Confesso que devia antes de mais pensar em mim, e as pessoas nunca acreditam quando digo, mas a verdade é que essa é sempre a última bola a sair do saco. Que seja, precisas de ter paz. E eu já tentei tanta coisa, não consigo transmitir esse bem. Mas eu quero-te bem. Então... abdico do amor? Mordo os lábios para não beijar? Sim, caramba, é isso que as pessoas boas fazem, diz-me o meu interior. A longo prazo será melhor... Digo tudo, deito-o para o ar. Está dito. Rezo para dentro, à minha maneir

Metade pedra, metade coração.

Imagem
Quando se pergunta: o que procuras no amor?, podem surgir mil respostas. Eu consigo imaginar que uma dessas respostas sumariza todas as outras. Queremos ser entendidos. Pomos isso por palavras diferentes, damos coberturas e "glacés" diferentes, mas na verdade tudo vai cair nessa finalidade tão simples. Não importa quão diferente possa parecer à primeira vista. "Eu quero alguém com quem me consiga identificar." "Gostava de encontrar alguém que se risse das mesmas coisas que eu." "O que eu procuro mesmo é alguém com gostos parecidos, com quem dê para conversar." "Para mim é essencial que a gente se entenda na cama." "Queria alguém com quem pudesse fazer coisas, ir a sítios." "Tem de ser alguém à minha altura!" "Só há uma coisa que não dispenso: é que seja tranquilo, que me dê segurança e paz." Seja qual for o linguajar, o sentimento ou a forma de o pôr por palavras, na verdade o que procuramos é e

Segurar o tempo

Porque é que ele não podia agarrar os ponteiros do relógio e simplesmente esperar por ela? Podia arregaçar as mangas da sua bonita camisa com toque de Verão; esquecer-se do seu delicioso cheiro de homem crescido e segurar os segundos com os seus braços fortes - os mesmos braços com que já a segurara firmemente tantas vezes - mantendo-se teimoso como só ele, até que ela o alcançasse. Ou ela. Ela podia despir o seu vestido armado às bolinhas, desmontar-se dos saltos altos, do penteado e da maquilhagem, enfiar uns ténis e correr atrás dele, em vez de aceitar graciosamente a distância amontoada entre eles, que na verdade não era culpa dele, nem dela. Mas que doía. Que a cada inspiração, a cada degrau parecia tornar-se maior. Que ameaçava tornar-se maior do que o amor. Eles tinham tanto medo. Por mais doces que fossem os beijos. Por mais intensa que fosse a química quando os olhares se cruzavam. Por mais escandaloso que fosse o riso, quando estavam juntos. Escandaloso seria deixar al