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A mostrar mensagens de fevereiro, 2017

Caixas vazias.

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Há dias em que podíamos ser caixas vazias. Todos nós temos dias sem interior, sem presença. Mas outros dias há, em que a caixa está cheia. Diferentes objectos se nos revelam e nos preenchem, de formas diferentes e bonitas. E o que nos leva lá, a cada um de nós, é a nossa capacidade tola de continuar a sonhar. A minha ponte? O meu objecto? O amor. Sim, ainda acredito. Ainda vejo, numa linha mais lá ao fundo, a minha mão suportada por outra, forte, constante. Oiço uma gargalhada sobre a minha, dando força uma à outra, mutuamente.  A par de todas as imperfeições, de todas as resmunguices, a minha mão estende-se para a sua face, lembrando-se da ternura nas horas mais imprevisíveis. A minha voz desafinada enche a sala, e há alguém que me ouve sorrindo. Com isso sentindo-se confortado. O meu coração enche-se ao ser surpreendida com um beijo. Quando acordo sabendo que um abraço é o meu lugar seguro, em dias de chuva, de poeira, de assim-assim. Muito disto não será como imaginei. Mas

Sentada no telhado.

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Soube logo que só ia saber fazer isto. Desde o primeiro caderno que me foi oferecido, há tantos, tantos anos. Nunca lhe encontrei melhor propósito do que para empilhar letras. Excepto, claro, quando perdia a paciência para procurar as palavras certas para os tumultos em questão (era uma jovem adolescente). Nestes casos, acabava rabiscando as minhas desarrumações nas margens, para deixar sair a pressão para qualquer lado. Na altura, quase só me saíam poemas de amor - maus, lamechas, desajeitados como tudo. Eram as histórias que eu tinha para contar. Lembro-me desse caderno como se estivesse à minha frente, e até ver ainda o guardo; azul escuro, de papel reciclado, com um buraco na capa onde desenhei, vá-se lá saber porquê, um pé (que só eu sei dizer que é um pé, e apenas porque fui eu que o desenhei). Escrever era, já na altura, como sentar-me num telhado. E deixar o olhar perder-se, até que encontrasse algo em que valesse a pena prender-se. Ora aí está. Antes disso já escrev

No lugar.

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É isso. Só isso. Agarra-te com força ao que te inquieta - mãos arqueadas, braços seguros. Ocupa-te de saber o que te move, o que te faz borbulhar. Assegura-te de que cada músculo conhece o seu lugar, e mantém um sorriso na cara. Entrega-te ao momento. Quando for hora de saltar, empurra o chão com toda a força. E se puderes, guarda alguma delicadeza dentro de ti. Não te deixes partir pela força que te pede o salto. Os nossos movimentos só ganham em elegância e beleza. Fotografia: Caroline Pav