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A mostrar mensagens de abril, 2014

Escorrego e quase caio.

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Escorrega-se-me uma ideia por mim abaixo. Sustenho-a com a respiração, empinando o peito para fora. Fazendo-me forte, está bem de ver. "Faz de conta que não é nada contigo." Que nestas alturas, dar parte fraca pode resultar efectivamente na morte do artista. Como a mão ágil de carteirista que arrebanha o último chocolate da taça, sem ninguém ver. E sem perder a pose. Nunca entendi bem a filosofia de quem vive sem ideias. Porque as ideias são o nosso fogo e a nossa selva, dão textura aos nossos sonhos e fazem-nos transpirar. Umas há, que caem pelo chão ainda antes de serem verbo. É deixá-las. Outras, por seu turno, crescem e avolumam-se dentro da nossa cabeça, como adolescentes glutões e insolentes. Quais gigantes escanzelados, que não param de crescer nem de nos moer a ideia. Com isto rio-me sozinha: imagino um gigante magricela, de cabelo cor de laranja, encafifado no sótão esconso da minha cabeça e a roer-me literalmente o balãozinho do pensamento com os molares. Prendo-

É sempre amanhã

Cá dentro, hoje há uma canção triste. Ela vai pingando, como um murmúrio que nos prepara devagarinho. E que entretanto se entranha nas nossas rotinas e fica, qual papel de parede, a sugerir como é que nos devemos sentir - às riscas, às bolinhas, floridos, coloridos ou pardacentos. Há cores que se perdem, na paisagem que me desfila, veloz, à janela do coração. Não perco tempo a decifrar significados - se for verde é esperança, se for vermelho vingança. Tempo não me resta nos gestos. Sobra apenas cansaço. E uma monotonia de sesta, a sesta dos que não têm nada de mais útil para fazer. As palavras doces aquecem-me, mas arrefecem logo, como bicho que nunca viu sol. Não me consolam por mais tempo do que aquele que o sopro da linguagem demora a passar. Estrebucho com o ardor dos pés que não saem do mesmo sítio. Resmungo como um velho do Restelo. Quero uma canção diferente, que eu saiba trautear. Mexo-me dois milímetros para o lado, e prometo que amanhã será a caminhada da minha vida. É s