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A Primavera dos dias

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São dias mais compridos, com mais luz. As plantas do jardim cheias de botões - promessas de juventude e de cor. Os cheiros intensificam-se, tornam-se mais quentes, acompanhando a temperatura, que já se vai espraiando. Até ver. As andorinhas andam por aí. Já as oiço, ao final do dia, num frenesim. E ainda hoje vi um par delas explorando uma poça, à procura de materiais para construir as suas casas de Verão. Os dedos tamborilam, contentes - normalmente, esta é uma altura que inspira a escrita. E eu ando a acumular materiais, como as andorinhas. Consigo senti-los atravessados no peito. Mas há aqui umas esquinas da alma que ainda estão à sombra. Cantos de mim, que a luz jocosa da estação ainda não consegue alcançar. Apesar dos seus braços elegantes e longos, dos compridos dedos de pianista, travessos e delicados. A espessura do nevoeiro não se deixa ainda atravessar. E com isso, a vontade de escrever e a falta de saciedade chocam como dois bons irmãos. É um aperto, senhores, um a...

Secrets. [let's try it in english]

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I have never been good at keeping secrets. Secrets seem to linger in my lips, dancing like the bitter note of lemon in the tongue. They appear to be only waiting for the opportunity to get caught. They are such children; playing hide and seek inside me, squealing over the possibility of reaching the hot point – words. Only they can they become real. After I have said this, it is most certain that you will not want to share your secrets with me. It’s ok. I know you will not believe me now, but I have gotten used to keeping everyone else’s secrets, actually – just not mine. And thinking of the poor little secrets crouching inside, who can blame them? I mean, wouldn’t you want to become real? Who wouldn’t run like mad to get the chance to reach the light of day for the first time? Do you think you would be happy to stay inside, watching the sun spreading his arms through a tiny window? Admiring it from far, not really being allowed to feel the warmth of its rays on your skin? ...

Um reflexo dos dias.

Hoje preciso de me sacudir. Como uma perna encolhida tempo demais, que precisa depois de exercer o reflexo de uma esticadela. E volta ao normal, dentro de algum tempo. Não sabia que podia amar-te mais. Não sabia que o tempo podia transformar aquilo que é forte, em algo ainda mais forte. Nem que o coração podia guardar-se para depois dar ainda mais de si, expandindo-se como um buraco negro ao qual nunca conhecemos verdadeiramente as dimensões. Nem onde nos leva. Continuo a pasmar-me com os sítios bonitos onde as emoções nos levam. Continuo a aprender. Por vezes é um carrossel demasiado rápido para que possamos processá-lo; outras vezes, é um mar calmo de pasmaceira e rotina. Continuo sem saber onde os dias nos vão levar. Tu teimas em não me dizer, garantes que não sabes. Mas continuo a sonhar. Os sonhos, esses, são um barco até Tróia - firme, seguro, guiado pela linha do pôr-do-sol, pelas ondas quietas que se agitam à sua passagem, lambendo-lhe o casco. A distância só te trouxe ...

Viagens. E o sítio certo. Sem sair do sítio

Não há palavras para o calor no coração. Para essa paz de nos sabermos no sítio certo. Neste caso quando as mãos, ainda desajeitadas com a falta de prática, pegam num recém-nascido pela primeira vez, para o observar e apresentar à sua mãe. A luz tem de ser a mínima possível, para não incomodar. O tom de voz calmo, a energia serena. Poucas palavras, acções suaves mas assertivas. Tudo parece coadunar-se com a energia que o nosso coração sabe produzir, mas que sempre sentiu ser desadequada, olhando à volta. Porque isto quer-se é energia, tom alto, hoje em dia, em todo o lado. Palavras soltas e sem grandes cuidados. Aqui não. Há que escolher as palavras com cuidado. Os actos têm um guião, que a cabeça tem de tornar parte de si - saber de cor, para usar consoante a pequena janela de oportunidade que aquele novo ser tem para oferecer. Aqui me integro, me ausento de tudo o resto para estar presente no que interessa. Estar no momento presente, sem arrastar mais nada ali para dentro. Entendo...

Coisas boas que são como janelas.

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No ano ido de 2010, escrevi precisamente sobre este tema: as pequenas coisas boas, que são como janelas. Hoje, em fase de reflexões, introspecções, turbilhões e outros "ões" parecidos, parece-me interessante voltar a pegar nesta perspectiva. Porque as coisas boas são como janelas... trazem-nos a claridade e a clareza que nos falta, na lufa-lufa dos dias apressados. Abrem-nos um quadradinho pequenino por onde a luz passa, e incide naquilo que realmente importa. Ilumina o nosso coração nos momentos em que nos sentimos sem energia.  Acordar e ter o pai discretamente à minha espera, entabulando pequenas conversas e tarefas para se entreter enquanto me espera, para o simples prazer de ir beber um café com a filha, de braço dado. Ir com a mãe, braço dado Lisboa fora ( a nossa cidade), para ver montras, passear, alegrar os olhos, conversar como duas amigas. Dito isto, é inegável a ligação de mãe e filha, para quem nos vê passar, tal é a semelhança no jeito de andar e nos caracó...

Sonho - beliscão - acordar

Esta noite sonhei que te perdia. Foi tal o desatino que me perdi, dentro da minha própria cama. E olha que o espaço é tão pequeno, que dois corpos só lá cabem encaixados como peças de puzzle. Este jogo perigoso roubou-me o sono. Mas acho que era disso mesmo que eu andava a precisar: de abrir os olhos. É que ultimamente eu andava a convencer-me que o mundo gira à minha volta. No entanto, andava a sentir-me cada vez mais infeliz. Sabes, o problema é que no meu sonho, o mundo não acabou. Tu continuaste a caminhar e também eu, embora já não me amasses. Enquanto corrias para outros braços, ocorreu-me que correr é continuar a viver. E eu chorava. Mas chorar também é estar vivo... Neste sonho, eu não conseguia andar. Impedida de sair do sítio, obriguei-me a parar para pensar. Foi nesse momento, apesar do sufoco de todas estas coisas a acontecerem ao mesmo tempo, que olhei à minha volta. E pude finalmente contar as minhas bênçãos, como se costuma dizer. Porque quando não nos resta mais na...

Insistir ou desistir?

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É ser segunda e saber-me a sexta. No amargo sentido. É saber que me devia sentir cheia de energia, retemperada com as boas notícias, o repouso, os encontros e namoros que vieram com o fim-de-semana. Mas o corpo acusa desgaste, alergia, sufoco. Achar-me de corpo e alma sufocada provoca-me uma vontade primitiva de me pôr em fuga, sem mais explicações. De não mais ter de falar, dar a cara, sorrir. Líquido gelado, este cheiro do predador à espreita... Sei que estes são os meus passos ensaiados. Fugir, quando as coisas se põem difíceis. Venho aprendendo a tentar demorar-me, pelo menos tempo suficiente  para aprender a lição. Vou descobrindo que com a insistência, o medo se dilui nas veias e deixa de arrepiar. Passa a fazer parte de mim e ensina-me. Mas hoje, os pêlos na nuca arrepanham a pele. O corpo está dorido e tenso, sugerindo perigo e fuga. É estar dividida entre o dever de cumprir, aprender, mudar... e o corpo, que tenta desesperadamente falar comigo. Acho que no fundo te...