A Primavera dos dias

São dias mais compridos, com mais luz. As plantas do jardim cheias de botões - promessas de juventude e de cor.
Os cheiros intensificam-se, tornam-se mais quentes, acompanhando a temperatura, que já se vai espraiando. Até ver.
As andorinhas andam por aí. Já as oiço, ao final do dia, num frenesim. E ainda hoje vi um par delas explorando uma poça, à procura de materiais para construir as suas casas de Verão.

Os dedos tamborilam, contentes - normalmente, esta é uma altura que inspira a escrita. E eu ando a acumular materiais, como as andorinhas. Consigo senti-los atravessados no peito.

Mas há aqui umas esquinas da alma que ainda estão à sombra. Cantos de mim, que a luz jocosa da estação ainda não consegue alcançar. Apesar dos seus braços elegantes e longos, dos compridos dedos de pianista, travessos e delicados. A espessura do nevoeiro não se deixa ainda atravessar.

E com isso, a vontade de escrever e a falta de saciedade chocam como dois bons irmãos. É um aperto, senhores, um aperto que nem vos digo.

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