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Coisas boas que são como janelas.

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No ano ido de 2010, escrevi precisamente sobre este tema: as pequenas coisas boas, que são como janelas. Hoje, em fase de reflexões, introspecções, turbilhões e outros "ões" parecidos, parece-me interessante voltar a pegar nesta perspectiva. Porque as coisas boas são como janelas... trazem-nos a claridade e a clareza que nos falta, na lufa-lufa dos dias apressados. Abrem-nos um quadradinho pequenino por onde a luz passa, e incide naquilo que realmente importa. Ilumina o nosso coração nos momentos em que nos sentimos sem energia.  Acordar e ter o pai discretamente à minha espera, entabulando pequenas conversas e tarefas para se entreter enquanto me espera, para o simples prazer de ir beber um café com a filha, de braço dado. Ir com a mãe, braço dado Lisboa fora ( a nossa cidade), para ver montras, passear, alegrar os olhos, conversar como duas amigas. Dito isto, é inegável a ligação de mãe e filha, para quem nos vê passar, tal é a semelhança no jeito de andar e nos caracó...

Sonho - beliscão - acordar

Esta noite sonhei que te perdia. Foi tal o desatino que me perdi, dentro da minha própria cama. E olha que o espaço é tão pequeno, que dois corpos só lá cabem encaixados como peças de puzzle. Este jogo perigoso roubou-me o sono. Mas acho que era disso mesmo que eu andava a precisar: de abrir os olhos. É que ultimamente eu andava a convencer-me que o mundo gira à minha volta. No entanto, andava a sentir-me cada vez mais infeliz. Sabes, o problema é que no meu sonho, o mundo não acabou. Tu continuaste a caminhar e também eu, embora já não me amasses. Enquanto corrias para outros braços, ocorreu-me que correr é continuar a viver. E eu chorava. Mas chorar também é estar vivo... Neste sonho, eu não conseguia andar. Impedida de sair do sítio, obriguei-me a parar para pensar. Foi nesse momento, apesar do sufoco de todas estas coisas a acontecerem ao mesmo tempo, que olhei à minha volta. E pude finalmente contar as minhas bênçãos, como se costuma dizer. Porque quando não nos resta mais na...

Insistir ou desistir?

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É ser segunda e saber-me a sexta. No amargo sentido. É saber que me devia sentir cheia de energia, retemperada com as boas notícias, o repouso, os encontros e namoros que vieram com o fim-de-semana. Mas o corpo acusa desgaste, alergia, sufoco. Achar-me de corpo e alma sufocada provoca-me uma vontade primitiva de me pôr em fuga, sem mais explicações. De não mais ter de falar, dar a cara, sorrir. Líquido gelado, este cheiro do predador à espreita... Sei que estes são os meus passos ensaiados. Fugir, quando as coisas se põem difíceis. Venho aprendendo a tentar demorar-me, pelo menos tempo suficiente  para aprender a lição. Vou descobrindo que com a insistência, o medo se dilui nas veias e deixa de arrepiar. Passa a fazer parte de mim e ensina-me. Mas hoje, os pêlos na nuca arrepanham a pele. O corpo está dorido e tenso, sugerindo perigo e fuga. É estar dividida entre o dever de cumprir, aprender, mudar... e o corpo, que tenta desesperadamente falar comigo. Acho que no fundo te...

Escorrego e quase caio.

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Escorrega-se-me uma ideia por mim abaixo. Sustenho-a com a respiração, empinando o peito para fora. Fazendo-me forte, está bem de ver. "Faz de conta que não é nada contigo." Que nestas alturas, dar parte fraca pode resultar efectivamente na morte do artista. Como a mão ágil de carteirista que arrebanha o último chocolate da taça, sem ninguém ver. E sem perder a pose. Nunca entendi bem a filosofia de quem vive sem ideias. Porque as ideias são o nosso fogo e a nossa selva, dão textura aos nossos sonhos e fazem-nos transpirar. Umas há, que caem pelo chão ainda antes de serem verbo. É deixá-las. Outras, por seu turno, crescem e avolumam-se dentro da nossa cabeça, como adolescentes glutões e insolentes. Quais gigantes escanzelados, que não param de crescer nem de nos moer a ideia. Com isto rio-me sozinha: imagino um gigante magricela, de cabelo cor de laranja, encafifado no sótão esconso da minha cabeça e a roer-me literalmente o balãozinho do pensamento com os molares. Prendo-...

É sempre amanhã

Cá dentro, hoje há uma canção triste. Ela vai pingando, como um murmúrio que nos prepara devagarinho. E que entretanto se entranha nas nossas rotinas e fica, qual papel de parede, a sugerir como é que nos devemos sentir - às riscas, às bolinhas, floridos, coloridos ou pardacentos. Há cores que se perdem, na paisagem que me desfila, veloz, à janela do coração. Não perco tempo a decifrar significados - se for verde é esperança, se for vermelho vingança. Tempo não me resta nos gestos. Sobra apenas cansaço. E uma monotonia de sesta, a sesta dos que não têm nada de mais útil para fazer. As palavras doces aquecem-me, mas arrefecem logo, como bicho que nunca viu sol. Não me consolam por mais tempo do que aquele que o sopro da linguagem demora a passar. Estrebucho com o ardor dos pés que não saem do mesmo sítio. Resmungo como um velho do Restelo. Quero uma canção diferente, que eu saiba trautear. Mexo-me dois milímetros para o lado, e prometo que amanhã será a caminhada da minha vida. É s...

Música de dentro

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Na maior parte dos dias, vou andando. E depois há dias em que me lembro de como era. De como devia ser. Ou de como realmente é , aqui dentro. Aquele impulso dos sonhos, quando voamos. Aquela força doce, o arrepio na nuca, a certeza que vem de dentro. Gosto de pensar nisso como o som do nosso coração, mas acho que lhe podemos chamar equilíbrio, harmonia. Eu sabia comunicar assim, antes de a dor chegar. Ao ar livre. Entretanto esqueci-me de que existia esta língua;  este lugar . E acho que foi a dor que me distraiu e escondeu o caminho atrás das suas costas. Há tempos, contudo, voltei lá, num daqueles sonhos revestidos por nevoeiro. Também já fui abençoada com breves instantes dessa consciência - como uma fotografia instantânea -, enquanto estava acordada. E admito-me perfeitamente obcecada com esse sabor a paz. Quero mudar-me para lá. Ficar daquele lado. Ainda que isso exija ser malabarista para toda a vida. Sei uma parte do caminho: temos de nos calar e esperar paciente...

A revolta dos suspiros

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Que marioneta é esta, que ocupa agora a voz das minhas mãos, operando por mim? Que me tem pelos tomates, num registo falso de intimidades e preocupações com as aparências - com o que os outros cuidam pensar? Que pele de ovelha é esta, que me assenta tão mal? Que me prende os movimentos, e me cansa ainda antes de tentar? Que me deixa a sós com a cega vontade de disparar um tiro contra o espelho, certa de que enlouqueci em razão do que vejo. E no entanto, é coisa que me consome em silêncio o sangue, despojando-me do desejo, da agressividade, de toda a energia que me restava para ripostar. Fico à espera da revelação de mim mesma, como se da aparição da Nossa Senhora se tratasse, e compreendo que é na espera que reside a verdadeira doença – ficar à espera, em lugar de agir. A boca quer falar mas sai-lhe som de flauta, para a ninguém magoar os ouvidos; o interior quer esbracejar e rugir, mas das mãos saem hesitações, movimentos frágeis, suspiros. Será maldição?, pergunto-me. E logo e...