A revolta dos suspiros

Que marioneta é esta, que ocupa agora a voz das minhas mãos, operando por mim? Que me tem pelos tomates, num registo falso de intimidades e preocupações com as aparências - com o que os outros cuidam pensar?
Que pele de ovelha é esta, que me assenta tão mal? Que me prende os movimentos, e me cansa ainda antes de tentar? Que me deixa a sós com a cega vontade de disparar um tiro contra o espelho, certa de que enlouqueci em razão do que vejo. E no entanto, é coisa que me consome em silêncio o sangue, despojando-me do desejo, da agressividade, de toda a energia que me restava para ripostar.
Fico à espera da revelação de mim mesma, como se da aparição da Nossa Senhora se tratasse, e compreendo que é na espera que reside a verdadeira doença – ficar à espera, em lugar de agir. A boca quer falar mas sai-lhe som de flauta, para a ninguém magoar os ouvidos; o interior quer esbracejar e rugir, mas das mãos saem hesitações, movimentos frágeis, suspiros. Será maldição?, pergunto-me. E logo encontro resposta – mais uma vez, a desculpar as pernas que não querem andar. É a doença a falar.
Porquê este medo? De soltar, de gritar, de dançar... de mostrar? De rasgar e ser.
Que boas maneiras são estas, que se me colam aos movimentos e matam o animal feliz que existia em mim?

Onde andas tu, alma solta, e porque não encontras forças para gritar? Devolve-me o olhar tonto mas cheio de vida. Devolve-me a sede, a alegria e as cores de menina. Desiludida que seja. Madura. Mas minha.

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Poesia :) Do melhor que tenho lido por aqui :)

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