Escorrego e quase caio.
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Que nestas alturas, dar parte fraca pode resultar efectivamente na morte do artista. Como a mão ágil de carteirista que arrebanha o último chocolate da taça, sem ninguém ver. E sem perder a pose.
Nunca entendi bem a filosofia de quem vive sem ideias. Porque as ideias são o nosso fogo e a nossa selva, dão textura aos nossos sonhos e fazem-nos transpirar. Umas há, que caem pelo chão ainda antes de serem verbo. É deixá-las.
Outras, por seu turno, crescem e avolumam-se dentro da nossa cabeça, como adolescentes glutões e insolentes. Quais gigantes escanzelados, que não param de crescer nem de nos moer a ideia. Com isto rio-me sozinha: imagino um gigante magricela, de cabelo cor de laranja, encafifado no sótão esconso da minha cabeça e a roer-me literalmente o balãozinho do pensamento com os molares. Prendo-me, durante dez segundos, na interrogação do porquê do cabelo laranja, e sigo em frente.
Não há como fugir das ideias. Se elas são boas ou más, deixemos ver com o tempo. Mas porque não, embarcar nelas e procurar dias melhores? O segredo talvez seja não esperar demasiado de uma ideia. E é deixar ver. Se valer a pena transpire, dê de si. Se não valer a pena, saia na próxima paragem. Porque há sempre uma próxima paragem.
Menos medo e mais ideias, senhores. Que num país cujo povo goza da fama de idiota, tenhamos igualmente o proveito.
Cuidado para não cair, com essa ideia que está aí aos seus pés. Veja lá, não escorregue.
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