É sempre amanhã

Cá dentro, hoje há uma canção triste.
Ela vai pingando, como um murmúrio que nos prepara devagarinho. E que entretanto se entranha nas nossas rotinas e fica, qual papel de parede, a sugerir como é que nos devemos sentir - às riscas, às bolinhas, floridos, coloridos ou pardacentos.
Há cores que se perdem, na paisagem que me desfila, veloz, à janela do coração. Não perco tempo a decifrar significados - se for verde é esperança, se for vermelho vingança. Tempo não me resta nos gestos. Sobra apenas cansaço. E uma monotonia de sesta, a sesta dos que não têm nada de mais útil para fazer.
As palavras doces aquecem-me, mas arrefecem logo, como bicho que nunca viu sol. Não me consolam por mais tempo do que aquele que o sopro da linguagem demora a passar.
Estrebucho com o ardor dos pés que não saem do mesmo sítio. Resmungo como um velho do Restelo. Quero uma canção diferente, que eu saiba trautear. Mexo-me dois milímetros para o lado, e prometo que amanhã será a caminhada da minha vida.
É sempre amanhã.

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