Metade pedra, metade coração.


Quando se pergunta: o que procuras no amor?, podem surgir mil respostas. Eu consigo imaginar que uma dessas respostas sumariza todas as outras. Queremos ser entendidos.
Pomos isso por palavras diferentes, damos coberturas e "glacés" diferentes, mas na verdade tudo vai cair nessa finalidade tão simples. Não importa quão diferente possa parecer à primeira vista.
"Eu quero alguém com quem me consiga identificar." "Gostava de encontrar alguém que se risse das mesmas coisas que eu." "O que eu procuro mesmo é alguém com gostos parecidos, com quem dê para conversar." "Para mim é essencial que a gente se entenda na cama." "Queria alguém com quem pudesse fazer coisas, ir a sítios." "Tem de ser alguém à minha altura!" "Só há uma coisa que não dispenso: é que seja tranquilo, que me dê segurança e paz."

Seja qual for o linguajar, o sentimento ou a forma de o pôr por palavras, na verdade o que procuramos é entendimento. Seja ele na forma da sintonia intelectual, sexual, de gostos, valores ou forma de estar na vida (há mesmo  quem procure um entendimento na forma de vestir ou de se expor socialmente). 

Queremos ser compreendidos; procuramos alguém que nos diga "eu percebo-te", não apenas com palavras mas com gestos, atitudes, tomadas de decisão. Procuramos alguém que mergulhe junto ao icebergue, conhecendo de perto a morfologia dos nossos medos e inseguranças, e que não fuja. Que arregaçe as mangas e nade. Que agarre numa picareta e se dedique a dar cabo desses medos como nós gostaríamos de ser capazes, mas nem sempre somos. Alguém que nos diga "Ei, eu também tenho disso, queres ver?"

E em alguns dias, alguém que simplesmente se sente ao nosso lado contemplando as arestas desse icebergue e seja capaz de nos fazer rir, encontrando animais engraçados nessas arestas incómodas e fazendo-nos perceber que é o.k. Que apesar dessas sombras que tanto nos pesam e por vezes pesam aos outros, merecemos ser amados.

Todos somos metade pedra, metade coração. Não temos de ser infalíveis nem perfeitos - não conseguimos, de facto. Em alguns dias iremos ao fundo; noutros, manifestaremos o que de melhor existe em nós. Temos de começar por reconhecer isso - reconhecer a pedra que há em nós. Não ter medo de tentar, apesar disso. E saber reconhecer quando alguém à nossa frente nos diz, com palavras ou sem elas (ao seu jeito): "eu entendo-te".

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