Alice e as escolhas

De repente ela é uma Alice.

Há pedaços de bolo, todos de aspecto apetitoso; uns fá-la-ão sentir-se e/ou tornar-se) pequenina; outros talvez sejam só saborosos. Da mesma forma, frasquinhos de conteúdos variados e brilhantes alinham as suas barrigas transparentes à frente dos seus olhos. Entre eles, haverá com certeza um que a transformará numa menina gigante (ou numa mulher?); outros quiçá lhe providenciem acessórios especiais - uns fartos bigodes, orelhas animalescas.


“Alice: Would you tell me, please, which way I ought to go from here?
The Cheshire Cat: That depends a good deal on where you want to get to.
Alice: I don't much care where.
The Cheshire Cat: Then it doesn't much matter which way you go. (...)"


'Am I to be trusted?', the new Alice thought. 'Trusted that I will somehow take the right direction?' By which she means she will eventually have to find out exactly what 'right' means, in her case.

A nova Alice vê-se a braços com passos sem remédio. Com vontades de voltar atrás, de desfazer o que fez; ou apenas talvez de se entregar a uma fuga que por fim sustenha no ar todas as perguntas. Continua a debater-se com a inevitabilidade de que algumas portas se fechem, para que outras possam abrir-se, de par em par - revelando o quê ou quem por trás delas espera para a abraçar.
Que caminho tomar? Que tamanho ganhar, que veneno escolher? Que culpa, meu Deus. Em antecipação.

E é assim que uma mulher completa e adulta, tantas mais vezes tentada a sentir-se pequena do que agigantada, se perde no labirinto da tentação. Tentação de quê, perguntam vocês, meus caros Cheshires? É simples: a tentação de achar que é possível ter certezas acerca do caminho que se vai tomar. Seja ele qual for.

O melhor que podemos fazer é medir tudo, pensar bem, respirar fundo e sem esperar por uma hora com mais coragem, ir.

Consequências, lados menos simpáticos... haverão sempre, seja qual for a alternativa escolhida. É acreditar que fizemos o melhor que estava ao nosso alcance na hora de escolher. Que aquilo com que cortámos não nos vai impedir de seguir em frente. E que somos suficientemente fortes para lidar com o que tiver de vir.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Aluga-se cantinho onde poder chorar

Longe do mundo... mas perto de ti!

E hoje é só.