Palavras, leva-as o vento.

Encontrar a coragem para dizer as palavras que têm de ser ditas. Ir buscá-las ao canto mais triste que existe em mim - um canto pequeno, onde nadam em espiral as poucas coisas de que desisti na vida.
Enfim, tropeçar nas palavras, com a calma de um condenado que sabe que vai morrer, mas que ainda assim acredita em milagres.

[conversa interior] Não devia ser assim, pois não? Mas penso em ti. Penso em tudo o que está para vir. Não posso fazer-te feliz. Não tenho o  que procuras, o que precisas. Confesso que devia antes de mais pensar em mim, e as pessoas nunca acreditam quando digo, mas a verdade é que essa é sempre a última bola a sair do saco. Que seja, precisas de ter paz. E eu já tentei tanta coisa, não consigo transmitir esse bem. Mas eu quero-te bem. Então... abdico do amor? Mordo os lábios para não beijar? Sim, caramba, é isso que as pessoas boas fazem, diz-me o meu interior. A longo prazo será melhor...

Digo tudo, deito-o para o ar. Está dito. Rezo para dentro, à minha maneira, até porque nunca escolhi a quem rezar. Rezo para ti; peço em silêncio que me contraries. Que me digas que eu até posso ter razão, mas que não é isso que queres. Que vais lutar e que sabes que eu quero que assim seja. Que me amas. Sim, foda-se, que se lixe tudo, porque é isso mesmo, e as palavras são para se usarem nos sítios certos! É isso que somos e não há por que conter! Não sei o que vou responder a isso, mas não consigo evitar de sorrir. Iluminam-se-me já os olhos com essas palavras. Sim! Aquece-se o coração com lágrimas de entusiasmo!!

Interrompes-me os devaneios com uma resposta seca do outro lado. Desligas-me o telefone na cara, ou é como se desligasses. O vazio da divisão em que me encontro parece olhar-me, julgar-me. Torna-se tão grande que decide entrar dentro de mim.

Mais uma vez desapareces. Levas contigo as pontes que nos uniam, reclamando-as como sendo tuas, impedindo-me de chegar a ti. Sei que era este o momento em que devia mandar tudo à merda e sentir-me bem porque acabou. Porque de facto não estás disposto a morder a língua. Preferes bater com a porta e ter a última palavra, para com quem pouco mais fez do que tentar amar-te.

Mas só consigo concentrar-me no som das palavras ao longe, ecoando nesse canto cada vez menos vazio do meu coração. As palavras que eu fui buscar ao fundo do mundo, palavras que raras vezes disse e que me rasgaram ao sair. Palavras que tu engoliste, levando-me com elas.

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