Segurar o tempo

Porque é que ele não podia agarrar os ponteiros do relógio e simplesmente esperar por ela? Podia arregaçar as mangas da sua bonita camisa com toque de Verão; esquecer-se do seu delicioso cheiro de homem crescido e segurar os segundos com os seus braços fortes - os mesmos braços com que já a segurara firmemente tantas vezes - mantendo-se teimoso como só ele, até que ela o alcançasse.

Ou ela. Ela podia despir o seu vestido armado às bolinhas, desmontar-se dos saltos altos, do penteado e da maquilhagem, enfiar uns ténis e correr atrás dele, em vez de aceitar graciosamente a distância amontoada entre eles, que na verdade não era culpa dele, nem dela.

Mas que doía. Que a cada inspiração, a cada degrau parecia tornar-se maior. Que ameaçava tornar-se maior do que o amor.
Eles tinham tanto medo. Por mais doces que fossem os beijos. Por mais intensa que fosse a química quando os olhares se cruzavam. Por mais escandaloso que fosse o riso, quando estavam juntos.

Escandaloso seria deixar algo assim cair. Com um abraço tão forte como o deles, no qual se tornavam um só, podiam ficar juntos para sempre. Como é que eles não conseguiam ver isso?



Comentários

Mensagens populares deste blogue

Aluga-se cantinho onde poder chorar

Longe do mundo... mas perto de ti!

E hoje é só.