O sol ainda não me veio espreitar...

O sol já anda a passear-se pelas ruas. Vaidoso e desavergonhado.

Eu ainda vou ficando pelas águas furtadas do edifício, onde o calor é maior. Onde a tensão vai aumentando, à medida que o final se aproxima. As expectativas e as exigências crescem.

Dou-me alguns segundos para olhar lá para fora. Vejo o sol de volta das crianças que correm na rua, descomprometidas e felizes. Vejo-o a beijar na face, mulheres bonitas que levam uma mala cheia de tempo livre. E varre os casais que passeiam, as pessoas que trabalham na rua. Mas não me toca a mim.

Ainda é cedo para sentir o calor na cara. A não ser no trajecto corrido do trabalho para casa, onde a cabeça vai cheia de preocupações, de "tenho des". Mas ainda assim, retiro-me pela janela do autocarro, e obrigo-me a relaxar, encostada ao sol como se fôssemos dois gatos inseparáveis e preguiçosos. Imagino que já estou no cantinho de praia, ocupada com um fato de banho e uns calções, a beber a bica e a carregar o livro e a toalha... tempos ainda longe para mim...

A vós confesso... quando vejo este burburinho a tomar conta da minha vida, sem que eu tenha muito controlo sobre isso; quando me apercebo de tantas outras formas de ser feliz, dou por mim a sonhar com um emprego menor, longe da confusão, e que me faça feliz.

Encontro-me a lutar por um futuro. Mas e se eu arriscasse só na escrita? Ou se me pusesse a treinar cães, com a a dura tarefa de limpar relvados e pacientemente me dedicar aos animais, coisa que mais amo na vida? Seria a vida mais fácil? Mais feliz?

Quem sabe...