As palavras nos gestos. E a lucidez de um coração partido.

Foram precisos... deixa-me ver, porque deixei de contar as minhas voltas ao sol. É isso, 37.  

Foram precisas 37 voltas ao sol para eu aprender uma lição que tão pacientemente tentaste ensinar-me durante tantos, tantos anos da minha vida.

Desde que sofri o meu primeiro desgosto amoroso, começaste a dar-me um miminho em todos os dias dos Namorados (e não só). Se davas um ramo de rosas à mãe, davas-me uma rosa a mim. Se compravas um peluche grande para ela, compravas-me um pequenino. Escrevias-me postais com poucas palavras - porque não eram precisas muitas. Estava tudo ali, nos teus gestos. E também nunca tiveste medo de me dizer o que realmente importa ouvir em palavras ou abraços, quando precisei.

Cresci a sentir esperança. A sentir que mesmo quando o coração se nos parte, há esperança. Há amor, há sempre amor a sobejar. Há sempre um fio de luz que leva o arco-íris a aparecer. 

Cresci a ouvir que existe sempre um fio de luz. Mas foi preciso todo este tempo, à boleia de um coração partido, para realmente te ouvir as palavras nos gestos, pai.

Não estavas a ensinar-me a procurar alguém igual a ti, nos gestos ou nas palavras. Não estavas a dizer que era preciso uma flor, ou uma prenda, ou um dia dos Namorados. Estavas pacientemente a dizer-me - e continuas - que mereço ser tão amada. Que é tão óbvio para ti e devia ser tão óbvio para mim.

E mais, acrescento às tuas palavras. Que eu sou capaz de me amar a mim mesma, como tu tão bem soubeste fazer.

Cada dia me sinto mais próxima desse fio de luz, meu pai. Cada dia mais.


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