Formas.

O amor tem tantas formas. 

Bom, que maneira mais lamechas de começares uma conversa.

Desculpa-me. Mas a realidade é que às vezes damos voltas a mais. Tomamos desvios por caminhos secundários. Abusamos nos quilómetros, desnecessariamente. Tudo para não passar na estrada principal, onde há mais confusão, mas onde chegamos directamente ao nosso destino.

Tudo para passar ao lado da palavra. Evitando confusões, achamos nós. Até nos depararmos com o camião, ou o acidente, nos nossos atalhos evitantes.

Quando às vezes é mais simples dizê-lo, tão somente.

[silêncio constrangedor]

Posso continuar? Bem, adiante. Dizia eu que o amor, essa estrada nacional caótica, tem formas muitas. Pode vir na forma elaborada de uma colher de madeira feita à mão para ti. Ou na forma de um bolo de chocolate inteiro - tu que só tens uma boca para o comer e duas para o segurar. 

Pode vir na forma do novo livro do teu autor favorito - aquele que te faz escrever e te faz sentir. 

[suspiro. revirar de olhos]

Não sei se consegues ver isto, mas até pode vir na forma de maquilhagem. De alguém que quer ver-te cuidar mais de ti. Ou de um rebento de uma planta.

Pode vir nas linhas de uma mensagem escrita para ti. Como uma bolha de abraço.

E por falar nisso, sim, pode vir na forma de tempo. De alguém que vem ao teu encontro depois de um dia árduo de trabalho, só para te fazer sorrir durante um pedaço. Ou alguém que se enfia num autocarro para ir até ti.

Em alguém que espera por ti, que anda às voltas para ir ao teu encontro. E em alguém que engole a zanga com as tuas asneiras.

Ia ainda mais longe, dizendo que pode estar nas mãos de alguém que limpa a casa para te receber, para receber os teus, para receber o teu dia contigo. Nas mãos de quem conduz a mesma estrada duas vezes, se for preciso.

(Ou nos gestos imitados, celebrando os de quem já cá não está e te faz tanta falta. E que assim é trazido até ti)

Está na alma de quem está e faz por estar ao teu lado.

Silêncio.

Já terminaste?

Quase. Ainda me lembro de mais uma. Pode estar nas mãos de quem escreve um texto de fazer revirar os olhos. Em jeito de gratidão. Dizendo aquilo que talvez possa ser evidente, mas que sabe bem pôr cá fora.

O que eu quero dizer - tem paciência, estou mesmo a terminar - é que há tantas formas. Formas imperfeitas, nem sempre direitas, por vezes bem estranhas. Mas se é amor - e isso está na intensidade do chocolate, na textura da colher e na força da mão que te segura - a forma vai ser, por desígnio e definição, a forma certa.

Viste? Também sei dar muitas voltas até chegar ao destino.

(hesitação. som de um sorriso)

Obrigada.

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