Ronronar.

[nem sei explicar a benção, o alívio que é por vezes olhar para uma página em branco. haverão dias em que é um aperto; mas noutro dias, como hoje, é como um daqueles suspiros profundos que esvaziam o peito; a prometer acontecer dali a nada, quando a página estiver cheia.]

Esta sensação apertada, enquanto te pões a caminho de um sítio novo. O nervosinho no estômago, e o sorriso desaparafusado. Há um sabor tão diferente a dançar na boca - meio picante, que pede para beber algo doce. E quando molhas os lábios no alívio doce, dás por ti a ansiar por mais desse picante. Como entrar no mar, e depois receber o calor. E precisar novamente do mar, num círculo tão perfeito quanto poderia ser eterno, se o dia nunca terminasse.

Pôr de lado as sombras, os ses e tudo o que me diz que este caminho pode às tantas estar errado. E se elas (as sombras) insistirem em aparecer, estou até com disposição de criança para brincar às escondidas. Não conheço o caminho, mas já conheço as minhas pernas - sei que podem bem correr, e fintar os fantasmas.

Tenho uma vontade (de fonte não confirmada) de simplesmente ir.
[aquele segundo em que ponderas: devo beijar? e os teus olhos se trancam naqueles lábios. e tu sabes que não há nada a fazer. é nesse segundo que eu estou].

Por uma vez, não pensar nas malas, no peso, na rota. Não planear, não controlar (é possível?). E ai de mim, bicho solitário (e tu igual!), habituado a dormir sozinho. As manias cristalizadas e as feridas apenas cicatrizadas por um triz - qualquer coisa ameaça reabri-las, e as unhas põem-se já de fora, à espera do esticão. [e nisto damos dois passos atrás.]

Feitos gatos bravos. Mas gato também precisa de colo. O seu peito também anseia por poder ronronar. Por poder entregar-se. Ao sono e às mãos que sabem o que fazem. E o espírito, que quer ser livre, também quer duas mãos trancadas no rosto, a segurá-lo. [como é que que sei que me vais segurar? boa pergunta. não sei. só sei que sinto o peito a enrolar-se num lento, adivinhado e incontrolável ronronar, a sair-me da boca já escancarada num sorriso.]

E é aí que o corpo pede para correr. Parece que sabe para onde quer ir. Por uns beijos na alma, tudo.

[banda sonora ----->     Rubel - Quando bate aquela saudade ]

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