Um nada que parece um fio de luz

Caíam pessoas dos céus. Como se fossem peças de xadrez, mas sem fazerem qualquer tipo de ruído ao caírem no chão. Algo lhes amparava a queda - não faço ideia o que poderia ser.
Caíam pessoas à minha volta. Provavelmente não haveria nada que eu pudesse fazer. Mas isso nem sequer importa - porque onde eu quero chegar é que nem sequer me dei conta de nada.
Isso nada importava.

Estava ocupada a seguir um fio de luz. Não sei sequer precisar-lhe a forma. Pus na cabeça que podiam ser pirilampos - e que bonito que isso foi de imaginar, de sentir. Mas não posso precisar-lhe a origem, ainda... sinto que ainda estou a seguir esse fio, embora já não o consiga ver. Tudo o que sei até ao momento foi que me prendeu o olhar, trouxe-me de volta ao aqui e ao agora, e abraçou toda a minha atenção.

Ainda sei falar-vos do burburinho que senti. Assim um bocadinho como um formigueiro doce, que se sente quando o corpo sabe para onde quer ir. Sem grandes explicações, sem grandes porquês e muitos "ses", muitos espaços em branco... mas sim, agora vejo que é como se fosse uma constelação a formar-se devagarinho, e cada estrela se vai ligando à outra... a ligar os pontos. Estou naquele momento em que ainda não conseguimos ver o resultado final - ainda não sabemos dizer que desenho forma. Mas já percebemos, meio em instinto, de pés assentes no chão, que aquele chão nos faz tremer por dentro. E nos faz dançar.

Acho que foi assim. Acho que começou por ser um ponto... isso, um ponto de luz. E foi aumentando devagarinho, quase imperceptivelmente. E como boa luz que é, começou a aquecer o seu redor. Mas invulgarmente, não sei bem como, aqueceu-me para lá da pele - não, não senti nada na pele, ao início. Aqueceu-me logo por dentro, como se conhecesse um caminho invisível para lá chegar. E eu quero agarrar esse calor, mesmo sabendo que as minhas mãos podem não o aguentar. Mas enquanto o sentir cá dentro, vou tentar agarrá-lo, este bicho raro feito de luz.

Bem sei que já devem estar aborrecidos; realmente deve soar a algo demasiado vago para poder ser tomado em consideração. Mas achei que devia partilhar.este formigueiro. Quem sabe não recordo alguém dos seus formigueiros? Quem sabe se, falando com muita esperança a dançar na ponta da língua, não acordo outras paixões?

[Isto serve também em jeito de desculpa. Se me apanharem distraída de olhos no céu, não estranhem. Já perceberam que ando, feita miúda, ocupada atrás dos trilhos dos pirilampos. É que não os via há tanto tempo.]

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