Uma luz presa cá dentro.

Hoje lia, de Victor Hugo:
'A writer is a world trapped in a person.'
("Um escritor é um mundo preso dentro de uma pessoa.")

E é isto.
É sentir todo um mundo revolver-se dentro de nós. Como o mais inquieto bebé de sempre, no ventre de sua mãe, em fim de termo, impaciente, demasiado grande, cheio de calor e frustração, mas acima de tudo, confuso.
O piano diante do homem que não quer ouvir. O coração diante daquele que não lhe sabe tocar.
E por mais vídeos que se vejam, por mais que se leia e se alimentem os sonhos com filmes e canções, chega a hora do espectáculo e há dias em que simplesmente não funciona.

"Teremos de ver", disse o técnico enquanto apagava os holofotes, um a um.
Tens de querer ainda mais. Tens de esticar mais a perna, de alongar mais, de suster a respiração; e tinhas de ser mais nova para conseguir fazê-lo. Não sei bem o que posso fazer mais por ti, mas farei o que puder, até porque és uma miúda porreira e tudo.
E lá vais tu, rebolando mais uma vez, esperando, sorrindo, colocando as mãos palma com palma e fazendo algo que nunca achaste que ias fazer: rezar.
Dás mais, na hora de trabalhar. Dás o que tens, ao ponto de te esqueceres de respirar. E mesmo assim, há dias em que não chega.

Chegas ao palco e voltas a esquecer-te de respirar. Não te olhaste ao espelho uma única vez. Mas sabes que está tudo no lugar. Sente-se. Apesar de tudo o que não se vê, de tudo o que não se sabe, esta luz presa cá dentro, como se iluminando o armário da alma, não engana.

Fotografia por Nadine T. S.

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