O coração pede. Damos?

Os pores de sol não páram de acontecer. Mesmo que não vamos à sua procura; mesmo que não paremos para os contemplar, ou que o nosso lugar na plateia não seja o mais privilegiado. Todos os dias, tal como (e porque!) a terra continua a rodar, um novo entardecer se perfila, em diferentes tons de morno e aconchegante, mas sempre convidando-nos, qual gato a pedir colo.
Do lado de cá, de olhos arregalados, também o coração já vai pedindo para se voltar a esparramar no passeio, juntando-se ao ouro líquido com que o sol banha os passeios.

Pede-se encarecidamente: destranquem as portas. Deixem sair os suspiros, as mãos dadas e as cumplicidades. Inventem-se novos estratagemas para surpreender e fazer rir - que cada gargalhada é mais um dia de vida.

Haverão a par e passo pânicos, inseguranças, ciúmes. Mas para cada queixume deverá haver um abraço apertado a condizer. Uma mão forte a segurar; uma carícia, um beijo no pescoço; um elogio dos que fazem parar o relógio. E muito importante, nos dias que correm: uma mão que nalguns dias seja firme para nos guiar, e noutros, se deixe conduzir e afagar. Por outras palavras: entrega.

Que os dias de calor podem parecer longos, mas na verdade a vida é, também ela, um suspiro. Sabe-se lá se, depois de um delicioso beijo molhado nos lábios cheios de sede, não se apaga a luz? Ou pior ainda: antes disso. Perdemos tanto tempo sem mergulhar no mar. Devíamos passar todo e cada fôlego de calor a correr para o mar.
De que servem uns olhos a brilhar, olhando para nós, se não podem poisar nas nossas entranhas?

Que a morte é uma data exacta. Só não confiam em nós para nos entregar essa informação preciosa em mãos.
Seguramos a fronteira dos sonhos com a ponta dos nossos dedos. Delas mesmo, das pontas dos nossos dedos, depende o ir ou ficar, o agarrar ou largar.

E hoje eu digo: agarre-se. Que a viagem pode ou não ser longa, mas ah, se depender de mim, vai ser uma loucura.

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