A quinta página de mim

Mais perto.

Olho para os pés; com o olhar percorro a distância que os separa da circunferência; essa que marca o centro, como giz no asfalto. Meço a olho e sim, quase posso jurar que estou mais perto do meio. Dessa esfera perfeita e intocada que é o centro de mim.
Com muita luta e refilice. Com dor e medo. Com uns passos trapalhões e muita dúvida metida ao barulho.

Mas a sensação é diferente. Para tentar explicar, talvez assim como aqueles finais de dia quentes, em que a temperatura já vai baixando, e esperamos começar a sentir frio a qualquer momento. Mas aquele torpor morno ainda se faz sentir na pele, e damos por nós a pensar como aquela sensação se aproxima da perfeição. Aqueles instantes raros em que não estamos a pedir mais da vida, nem do momento; em que estamos só a curtir exactamente o que temos, no aqui e no agora. E sim, curtir é mesmo a palavra certa. A gozar; a ser. A abraçar apenas aquilo que se encontra à distância dos nossos braços, com um sentido de privilégio e gratidão.

Toda a gente tinha razão. Os que diziam "mais para a esquerda" e os que contrabalançavam com "era só um passo para a direita"; os que diziam que devia ser mais disto ou menos daquilo; os que em silêncio assentiam sem concordar, e os que barafustavam de forma efusiva. Todos tinham razão - era mais para dentro do sentido que me levasse até mim.

Diz-se por aí que o 2016 é um ano de mudanças radicais; que por qualquer razão, seja o alinhamento de uma série de calhaus gigantes que orbitam à nossa volta, pelas energias, o plano político-social ou qualquer outra história cabeluda, está a haver por aí muita transformação, muito abano sério, muita reconstrução. Eu concordo, subscrevo, e atrevo-me a sorrir perante a ideia.

Porque mudar é a única forma de conseguir resultados diferentes.

Hoje atrevi-me a escrever mais uma página de mim. Partamos do princípio de que cada dia é uma página nova; e assim, em cada dia cabe-nos a responsabilidade - e oportunidade incrível - de escrever mais uma. Sem o peso do livro todo no mesmo dia. Uma página de cada vez.

E nem em todas as páginas tem de figurar um âmago dramático, ou um momento crucial. Em alguns dias, a única coisa crucial é continuar a escrever (até porque um livro cheio de apoteoses pode tornar-se cansativo retirando o impacto às exaltações). E o que no início é o movimento forçado da mão, algum dia há de ser letra bonita, momento emocionante, e por fim, o virar da página.

Porquê cinco? Não sei. Hoje soou-me um número redondo.

[E assim vou tropeçando até mim. hoje mais perto do que ontem.]

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