[Fica. Eu não lhe conto. Prometo.]

Hoje impunha-se escrever.
Impunha-se admitir que o silêncio anda a queimar-me.

Queimam-me as fotografias de todos os dias que não são hoje; dói-me o meu sorriso nelas. Esse sorriso cheirava quase sempre a ti. As fotografias de hoje, essas não têm sorriso. Têm rugas de pele que não têm sido esticadas; em suma, pele que tem ficado por agarrar. Ao espelho vejo só uma sombra desmaquilhada, e no entanto sei que há tanta cor aqui, a pedir para ser espalhada!

Ardemos com o caminho. [Tens a certeza?] E no entanto só há areia, sem os teus braços. O sono não me larga nem com os olhos acordados, os sonhos versam a perseguição, a inquietação e um silêncio... aquele silêncio estranho que se ouve dentro de água, que pressiona os ouvidos e sabe a fim.
Todas as horas são compridas demais e passam a correr; todas as divisões que percorro tresandam a cinza no ar. Fazem-me arder os olhos, provocando-me ataques de choro.

[De certeza que já não te convenço a dançar?]

Queria ir dar uma volta de avião; ir para qualquer lado que me seja novo, de mala simples aviada, e caminhar até não poder mais com os pés. Não preciso de falar. Nem de comer. Só quero andar, até me doer tudo e a cabeça desistir de pensar. Quero vento na cara e no cabelo, quero sol na pele, quero o burburinho dos outros para derreter o meu.
Queria mãos dadas, queria beijos e carícias, mas é pedir demais, eu sei.
[Ainda te lembras do sabor?]

Tenho tudo aqui, à beira da pele, a fervilhar. A pedir para explodir; pedindo para rir até faltar a voz, para chorar até deixar de estar a afogar-me.

Há tantas coisas bonitas para amar. Tantos momentos doces para tomar nos braços e embalar. Há tanto ar para respirar. Porque é que me faltam os pulmões para o receber?
O tempo, já sei. Esse cabrão de quem todos falam.

Não havia ele de chover.

[Fica... Eu prometo não dizer ao meu coração que estás cá.]

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