Pinguins e sobremesas.


Pensei em ti quando vi isto. Não sei se é uma boa definição de amor; mas é, sem dúvida, uma óptima definição do nosso amor.

A sobremesa partilhada era uma coisa nossa - quando estávamos a dois, com um grupo de amigos ou com família, as duas colheres num só prato a meio da mesa eram a nossa forma de dizer que éramos uma equipa. Das boas.
As sobremesas são, agora que penso nisso, a metáfora perfeita: a dois sabe melhor. Partilhar as coisas um com o outro era natural, para nós. Quando já tínhamos barrigas cheias e deitávamos o olho à sobremesa, aceitávamos o desafio, desde que o fizéssemos juntos. Ou quando duas sobremesas diferentes nos atraíam, uníamo-nos e fazíamos frente aos dois pratos, saboreando dois em vez de um. E nunca tu me olhaste de esguelha por ver a minha colher aproximar-se do teu prato. Sempre adorei isso em ti. E tenho esperança que tu adorasses a minha atitude refilona, quando tiravas colheradas gigantes (ou se calhar irritava-te, não sei... Mas nunca deixaste transparecer isso).

Percebo agora na pele, no sal das lágrimas, as tuas palavras: "não devíamos celebrar só porque é dia dos Namorados. É dia dos Namorados todos os dias."
Não andávamos a fazê-lo, tu e eu. A verdade é essa. E também é verdade que tu dizias isso porque não te apetecia ceder um bocadinho à pressão social de me oferecer alguma coisa...

Sabes? Hoje, 11 anos depois do primeiro dia dos Namorados que passámos juntos; a primeira vez, desde que somos adultos, que passámos este dia separados (no final de contas, igual aos outros) - só hoje descobri que somos pinguins.
Sabes porquê?

Porque os pinguins, quando encontram um parceiro de quem gostam, vasculham a praia inteira à procura da pedra mais bonita para oferecerem ao parceiro ou parceira.
E nós fizemos isso. Ambos o fizemos. Lembras-te?

É uma tolice, eu sei. Mas concordámos afastar-nos. Não posso simplesmente mandar-te uma mensagem, como sempre fiz - gesto que tomei por garantido, como tantos outros.

Tomei por garantida a tua frase. Devia ter celebrado todos os dias que passei ao pé de ti. Porque tinha sorte. E não o fiz.

Por isso hoje, 11 dias dos Namorados depois, com um copo de vinho e as palavras por companhia... de novo reduzida ao essencial que é ser eu... só me resta falar-te dos pinguins. E das sobremesas.

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