Amo-te, mas... voar!
Amo-te muito, mas quero voar.
Amo-te tanto, meu amor, mas hoje preciso de partir.
És tudo aquilo que procurei, agastada, ao longo dos tortuosos e errantes anos verdes da adolescência. Mas hoje, um cheiro irresistivelmente diferente atrai-me para fora do ninho.
Não penses, amor, que vou com ligeireza. É o cheiro de outros voos, amor, dos sonhos que fazem de mim quem sou. Esses sonhos que levam a que vocês, os de sempre, me gozem. Mas são esses mesmos sonhos que me tornam tão macia de abraçar, que me tornam um colo ternurento e uma alma espicaçada.
Só que, desconfio, os sonhos são matéria insuflável: eles têm a capacidade de se insuflarem e tornarem em objectos muito diferentes daquilo que aparentavam inicialmente. Mas se passarem anos encafuados num sítio sem conhecerem uso, correm o risco de se agastarem com a espera. E chegado o dia em que uns lábios corajosos decidam abraçar o pó para os encher, poderá já haver um buraco que os impeça de tomar forma (ou pelo menos, de atingirem a grandiosidade prometida na embalagem colorida que nos encheu os olhos).
É tão bom, o calor do nosso ninho; tão aconchegante o sabor das asas dos pais, apertadas sobre nós. Mas hoje, depois de tantos dias aqui passados às escuras, vi um fio de luz. E de repente a escuridão tornou-se pequena. Serão isto ataques de pânico? O chamado sufoco, o medo de morrer sem nunca daqui sair?
Somos um pouco de como somos criados. Mas somos, felizmente, uma manta de retalhos que abarca muito mais do que isso - somos pedaços de experiências soltas; somos beijos, palavras sussurradas ainda na segurança do ninho; somos música que ouvimos entoada ainda antes de sermos gente, e que fica no ouvido.
E hoje, logo hoje, oiço uma música familiar a ser entoada ao longe. Preciso de a ir ouvir de perto, amor. Quem sabe? Pode ser a última oportunidade que tenho de a ouvir. De descobrir a combinação de cordas e sopros que a compõem - de saber afinal, de que é feita a música que me chega ao coração.
Preciso de saber, amor - e ninguém, por mais cálculos que faça, poderá realmente saber -, que quantidade de vento é necessária para fazer as minhas asas voarem. Só eu posso saber, com a experiência e com as afamadas quedas de que todos falam. Porque as minhas asas são diferentes das outras todas - mas até ver, não estão agastadas com a espera.
Tenho de as pôr à prova, e estou cansada de ouvir que no interior do ninho não tenho de as usar (muita palmada levei, por tentar abri-las dentro de casa - diz que dá azar, como o chapéu de chuva!).
Eu sei que debaixo dessas lágrimas estás feliz por mim, amor. E sei que o medo está a impedir-te de experimentares as tuas asas, também. Mas sabes que se quiseres, podemos ter medo juntos. Porque todos precisamos de amor, meu amor.
Amo-te tanto, meu amor, mas hoje preciso de partir.
És tudo aquilo que procurei, agastada, ao longo dos tortuosos e errantes anos verdes da adolescência. Mas hoje, um cheiro irresistivelmente diferente atrai-me para fora do ninho.
Não penses, amor, que vou com ligeireza. É o cheiro de outros voos, amor, dos sonhos que fazem de mim quem sou. Esses sonhos que levam a que vocês, os de sempre, me gozem. Mas são esses mesmos sonhos que me tornam tão macia de abraçar, que me tornam um colo ternurento e uma alma espicaçada.
Só que, desconfio, os sonhos são matéria insuflável: eles têm a capacidade de se insuflarem e tornarem em objectos muito diferentes daquilo que aparentavam inicialmente. Mas se passarem anos encafuados num sítio sem conhecerem uso, correm o risco de se agastarem com a espera. E chegado o dia em que uns lábios corajosos decidam abraçar o pó para os encher, poderá já haver um buraco que os impeça de tomar forma (ou pelo menos, de atingirem a grandiosidade prometida na embalagem colorida que nos encheu os olhos).
É tão bom, o calor do nosso ninho; tão aconchegante o sabor das asas dos pais, apertadas sobre nós. Mas hoje, depois de tantos dias aqui passados às escuras, vi um fio de luz. E de repente a escuridão tornou-se pequena. Serão isto ataques de pânico? O chamado sufoco, o medo de morrer sem nunca daqui sair?
Somos um pouco de como somos criados. Mas somos, felizmente, uma manta de retalhos que abarca muito mais do que isso - somos pedaços de experiências soltas; somos beijos, palavras sussurradas ainda na segurança do ninho; somos música que ouvimos entoada ainda antes de sermos gente, e que fica no ouvido.
E hoje, logo hoje, oiço uma música familiar a ser entoada ao longe. Preciso de a ir ouvir de perto, amor. Quem sabe? Pode ser a última oportunidade que tenho de a ouvir. De descobrir a combinação de cordas e sopros que a compõem - de saber afinal, de que é feita a música que me chega ao coração.
Preciso de saber, amor - e ninguém, por mais cálculos que faça, poderá realmente saber -, que quantidade de vento é necessária para fazer as minhas asas voarem. Só eu posso saber, com a experiência e com as afamadas quedas de que todos falam. Porque as minhas asas são diferentes das outras todas - mas até ver, não estão agastadas com a espera.
Tenho de as pôr à prova, e estou cansada de ouvir que no interior do ninho não tenho de as usar (muita palmada levei, por tentar abri-las dentro de casa - diz que dá azar, como o chapéu de chuva!).
Eu sei que debaixo dessas lágrimas estás feliz por mim, amor. E sei que o medo está a impedir-te de experimentares as tuas asas, também. Mas sabes que se quiseres, podemos ter medo juntos. Porque todos precisamos de amor, meu amor.
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