A poesia das escolhas


Acho que, se quisesse, e com o devido investimento, teria jeito para várias profissões. Sobretudo ligadas ao ensino, às letras e às línguas, que sempre foram o meu forte. Tenho também jeito com pessoas, e por último com animais.
De todas essas coisas, escolhi provavelmente a mais difícil. Ajudar as pessoas a lidarem com o seu sofrimento e as suas dificuldades, em momentos da sua vida em que se encontram bloqueados ou em situação de crise.
Digo que é a mais difícil porque é talvez, de todas, a que nos implica mais a nós como pessoas. Aquela que implica um maior envolvimento emocional, e portanto requer uma "carcaça" mais forte. A ferramenta essencial somos nós, e tal como um bisturi, um martelo ou uma seringa, trabalha tanto melhor quanto mais cuidado, limpo e forte estiver. Expõe-nos especialmente às nossas próprias vulnerabilidades.

Sei que estamos sempre a tempo de escolher outro caminho. Ou de nos completarmos com outras actividades. E também sei que em cada escolha que fazemos descansa uma lição a aprender. As decisões deste género não são necessariamente irrevogáveis, mas com elas aprendemos. Existe, por assim dizer, uma certa poesia nas decisões que tomamos.

Escolhi esta profissão e não me arrependo. Em cada sorriso que vejo num idoso que acompanho, em cada abraço sincero de uma criança que enfrenta as suas dificuldades com a minha ajuda, vejo-me mais completa.
Mas por vezes (sobretudo nos dias difíceis, claro!), dou por mim a perguntar-me se não estava a ser teimosa, quando ignorei as vozes das pessoas que me diziam que eu tinha muito mais perfil para mulher das letras. Seria um caminho talvez mais fácil para mim. Mas seria o meu caminho?

Fotografia: Poetry of Choices, de Janek Sedlar

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