Outono. Gratidão.

A alma vai-se condoendo com a necessidade de se recolher. O sol ainda petisca nos dias mas a sua cor vai-se amarelecendo, desbotando como um pano que se lavou muitas vezes.
O Outono traz-nos isso; um lento abotoar, um avermelhar das folhas e uns rasgos de vento em dias de quarto crescente, para nos relembrar que é tempo de armazenar. As forças do ser concentram-se, atarefadas, em calcular o que é preciso para aguentar o rigor de mais um inverno.
Sejamos inteligentes, diz-nos o coração, e tratemos disso agora. Para depois podermos congratular-nos à lareira, se a vida o trouxer em sorte, com as barreiras que erguemos para o frio.
Carreguemo-nos de risos como se fossem cobertores, diz a criança de dentro. Vão fazer-nos falta para as brincadeiras dentro de casa.
Aproveitemos ainda o chão morno e dancemos, agora, e ainda ao sol, diz o corpo. Como uma bateria solar que se carrega até transbordar, minutos antes de a luz se apagar. Vamos coleccionar mais algumas recordações dos pés soltos no chão e do terno encostar do sol à pele.
Ouçamos a música do calor enquanto ele se desvanece, dizem os dias. Desse namoro dos pássaros com as madrugadas cheias de luz. Dessas energias nos alimentemos ainda, agradecendo mais um verão quente.
Grata estou. Pela consciência de cada dia que cresce em mim, que me permite escolher olhar a luz, em vez de aguardar nervosamente as trevas.
Hibernemos acordados. Porque o coração é uma casa onde por muitas portas que se fechem, fica sempre uma janela aberta à espera da compaixão dos pássaros.

Comentários

Indio disse…
Gostei muito :) Vamos aproveitar o que cada estação tem de bom!!
Carolina H. disse…
Não fosse o Outono a minha estação favorita!

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