Danço e sou um novo lugar.


Em alguns dias, se tivermos sorte, a dança ajuda-nos a evaporar as coisas da alma. As preocupações vão escorregando através dos poros, fazendo cócegas. As alegrias expressam-se com uma verdade recuperada da infância...
Porque tal como uma criança não possui naturalmente o dom do artifício e do engano, também o corpo conserva essa pureza. Deixá-lo falar é, por isso, guardar filtros e deixar histórias de lado. O privilégio de uma viagem no tempo... que podemos aprender a prolongar.
Há uma verdade primitiva e absoluta, nas emoções que transpiram de um corpo que dança.
E o quanto damos de nós próprios enquanto dançamos revela, na verdade, a generosidade do nosso espírito. Quando somos capazes de nos entregar plenamente, conhecemos um novo equilíbrio dentro de nós. Uma nova liberdade. E no entanto, é também um voltar a casa.
Dançamos e a nossa alma põe-se em conversa com o mundo. Por isso eu danço, e assim abraço a criança que vive em mim. Nos dias bons, que são cada vez mais, é impossível guardar o sorriso para mim.
Quanto mais o corpo evolui - sejam as pernas que alongam um pouco mais, os pés que se aguentam mais uns segundos em meia ponta ou a postura que melhorou um bocadinho -, melhor eu converso com o mundo. Como se aumentasse o léxico de palavras.
Crescemos e aprendemos a falar com os outros. Esquecemo-nos de nós. Mas temos o nosso corpo, âncora, língua essencial. E através da beleza de um corpo que fala, partilhamos a nossa alma.
A dança é, por isso, a arte de encantar os dias. De quem dança e, com sorte, de quem vê.

Danço e sou um novo lugar. Um lugar melhor. Onde sou aquilo que eu quiser. E aquilo que sempre quis ser.

Comentários

Não é só a dança que nos evapora a alma: são também textos como estes, sublimemente escritos :)
Wicahpi disse…
Obrigada, querida Carolina! :)
Yeti disse…
Muito bom texto bailarina Nadine
abracinho do teu amigo yeti :D
Yeti disse…
Muito bom texto bailarina Nadine
abracinho do teu amigo Yeti :D

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