Eu sonhava. Eu sonhei. Eu sonho. Eu sonharei.

Desde catraia que tenho um sonho bonito e recorrente, embora raro. Só deve acontecer quando estou num estado muito zen, quando a vida vai bem ou quando calha, não sei. Digo isto porque não tenho este sonho há anos. Às vezes, a necessidade de o rever é tão grande que me ponho a recriar o sonho, acordada. Porque afinal, é algo tão comum... algo que todos nós já sonhámos.
Eu sonhava que voava. Com a nitidez do HD e dos subwoofers e dos efeitos 3D e dessas traquitanas todas. E mais ainda. Com a textura da realidade.
Dava pulos grandes que se prolongavam, planando lentamente por cima de jardins e prédios. Quase sempre, o ponto de partida era a praceta linda onde cresci. Se me concentrar nesse ponto, o sonho de há muitos anos dá um pulo para o presente. Instala-se de janelas abertas e pica-me os sentidos.
Levanto a cabeça e o vento atravessa-me o rosto em desgarrada. Entra-me pela alma adentro, claramente de caminho decorado.
Olho para baixo e vejo as árvores alinhadas de copa generosa; o passeio com pessoas e animais em lazeirice; o jardim cheio de crianças, abstraídas, como se não pudessem ver-me. Salto-lhes por cima, em câmara lenta. Como uma gaivota, vou de braços abertos e deixo-me planar, brincando com o vento. De vez em quando vou lá abaixo, impulsiono-me e volto a subir. Estou acima de tudo. Até o som das crianças a brincarem fica lá em baixo - sei que ele está lá, mas ele não me alcança. Estou sozinha, mas a solidão não me esmaga - liberta-me.

Agora a parte esquisita. Há uma actividade do dia-a-dia que me eleva a um estado ligeiramente semelhante. A música. Ou mais especificamente, vozes bonitas. Quando elas chegam ao seu clímax... Sabem, quando chega àquela parte da música em que o cantor ou cantora abre as goelas e dá o seu melhor? Nesse precioso instante (apenas através de algumas vozes), eu sou capaz de me montar na sua voz, e fico à espera de ser levada. Às vezes canto também, para ajudar.
E sinto o impulso de novo, os pés a tocarem no chão como uma mola, subindo para além de tudo o que existe. Sinto a adrenalina a massacrar-me o coração e sinto, com picos delirantes de realidade, o vento na cara, a lembrar-me de inspirar fundo. De descontrair e aproveitar a viagem.

Comentários

Indio disse…
:) De vez em quando também sonho que voou, é tão boa a sensação!

Gostei muito do texto e espero que sintas esse voou na música muitas vezes ;)

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