Seres interiores e anteriores

Desatentadamente vivemos os nossos dias. Achamo-nos senhores do nosso tempo, esquecemo-nos de aprender.
E um dia, algo de inesperado acontece. O comum "ficar sem tapete sob os pés". A dor chega e inunda todos os espaços que antes ocupávamos com falsas preocupações, ócios e lazerações [lazeres que nos dilaceram]. Apodera-se de pensamentos e funcionamentos. Transforma-se temporariamente naquilo que somos. Ou no que passamos a ser.
[Para vos exemplificar, pensem na dor de ver alguém que amam a sofrer. É o exemplo que estou a reter.]
Chegados aqui, somos forçados a reaprender. Porque de coração em fogo e fumo nos olhos, desaprendemos tudo. Descoloramos os nomes todos que já sabíamos, gatinhamos em vez de correr, esquecemo-nos de respirar.
Voltando a viver cada dia com uma pequena glória, saboreando vitórias que já nos eram "nadas". Guardamos mensagens no telemóvel, como que para nunca nos esquecermos de estar gratos. Pelas pequenas bençãos que a vida nos vai devolvendo, a vulso, depois de ter ameaçado tirar-nos quase tudo. E do quanto vai aliviando esse fumo nos olhos. De cada dia que nos permite avançar mais um centímetro. Respiramos fundo cada centímetro desses.
Já sabes o que penso sobre este assunto. A vida encarrega-se de nos dar as lições que ainda não aprendemos como deve ser. Por isso, acredito que o destino não me dá mais do que eu sou verdadeiramente capaz de carregar.
Mas foi pesado, desta vez. Está passando [uso o gerúndio dos amigos alentejanos, por precaução de não falar cedo demais!] mas doeu enquanto chegava. Como o embate de um camião contra os ossos.
Falo aqui em não mais do que seres interiores, que passam a ser anteriores! Falo na mudança do ser humano perante a desgraça, perante o fenómeno! Na adaptação, na fabulação e na transformação que nem sempre é de lagarta para borboleta... Falo da nossa capacidade de relativizar coisas que antes nos pareciam grandes, mas que passam a ser tão pequenas... quando conhecemos uma montanha maior do que todas as anteriores, é inevitável a comparação!

Nota: não estranhem os leitores algumas incorrecções minhas. Notar-se-á muito que ando a ler Mia Couto? E que me deixo enfeitiçar? Às vezes é preciso inventar sentidos, porque as palavras só não chegam para tanto sentimento*

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