Sei que... mas quero voar. Por favor.

Descalço-me. Mergulho no chão os pés nus. Deixo-me arrepiar pela sensação súbita do frio que me quer acordar. Fecho os olhos e espero o som da porta da rua a fechar-se. Silêncio.
Há um compasso de espera. Como se a confirmar que é real. Suspiro inconscientemente, com o corpo todo. Sinto-o relaxar. Só agora...

Precisar de estar só. Uma sensação que eu não compreendia. Que me era estranha. E que agora me atinge como uma mão que impede de respirar, constantemente.
Não sei sobreviver de outra forma a esta onda. A este torpor e a esta ganância da alma. Quero silêncio. Quero poder ouvir de novo o meu coração a bater. Mais do que ouvir-me, escutar-me. Escutar o meu som. Vivê-lo, curti-lo.
Sabendo quem sou, isto é muito bom! Habituada a precisar do ar de outrém. A desesperar pela mão sempre próxima, ao afago constante. Dependente. Isto é, portanto, maravilhoso passo. Redefinição. Mudança. Transformação.
E no entanto, pareço viver a vida em constante e ininterrupta mudança. Pareço lagarta que não pára de entrar e sair em crisálidas curtas e intensas... parece ser isso que me define.
Com o corpo agora liberto de tensão, apetece-me cantar. Faço-o. Pelo gozo de soltar cada palavra de mim, de a sentir em intensidade e sabor. Como se fosse um caramelo às voltas na boca.
De novo o silêncio, que alimento durante um longo tempo. Tão bom, não ter de falar... não ter de responder, de estar atenta, preocupada, em sobressalto. Deixar de pensar, libertando corpo e alma, como se estivessem antes presos por um cadeado apertado.
E de repente o silêncio gasta-se. Oiço a porta da rua. E nada mais pode esperar. A sala enche-se de barulho. E todos conseguem dançar ao seu som. Menos eu.

Há uma porta aberta. Por isso fui andando. Passear de bicicleta. Onde o mundo se resume apenas a mim e à estrada. Não há pensamentos, não há vozes nem mãos apertadas a prender-me. Só eu. O vento no meu cabelo. E a paz.

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