Baloiço

Hoje sentei-me no baloiço. Não obstante a chuva teimosa, o céu de dentes rangentes, as caras franzidas.
Ajeitei as meias às riscas que me chegam ao joelho, levantei as saias e aconcheguei-me nesse tesouro da infância que é o baloiço.
No baloiço fazemos o quê? Equilibramo-nos. Fazemos força para avançar. Para subir. Sabendo que em seguida voltaremos a descer. Deixamos o cabelo voar, voamos com ele. Esticamo-nos.
Brincamos a esse doce balançar.

Eu balancei. Querem saber o que descobri?

Tenho 25 anos. Idade mais do que suficiente para chegar com os pés ao chão.
Tirei um curso, e mais do que isso, acabei-o com prazer e distinção. Como quem recebe uma estrela para pôr na bata da escola primária. O auge.
Tenho esperanças, equilíbrio, planos, ideias. Tenho amigos com quem brincar no recreio, tenho amor, que me protege. Tenho vida!

Não tenho liberdade...
Ai, espera! Não tenho o quê? Mas como é que se pode andar de baloiço e não ter liberdade para voar?
Vamos voltar atrás... apagando esta última parte. Porque eu tenho liberdade, sim senhora. E vou gozá-la.

E se não quiserem empurrar para a frente, ao menos afastem-se e deixem-me baloiçar.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Aluga-se cantinho onde poder chorar

Longe do mundo... mas perto de ti!

E hoje é só.