Musicbox


O corpo preso dentro de uma caixinha, sem respirar. Encolhido, imóvel, contido e furioso. Preso no tempo, algures num mundo parado, à espera de poder respirar.
Os pulmões pedem espaço para se abrirem, para absorverem um pouco de ar. Faz força, o corpo, as costelas empilhadas num último fôlego. E por fim a caixinha abre-se... no meio do nada, vê-se agora, uma sala sem paredes, um vazio sem nada.

A alma enche-se de uma lufada desesperada com música, e a voz sai, empedernida, trapalhona, desesperada.
Os pés, ainda amachucados, soltam-se das ligaduras e saltitam, movem-se sem parar, e o meu corpo pede-me que dance, que não pare de flutuar. Não preciso nem posso pensar na forma como devo mover-me: simplesmente fecho os olhos e deixo-me ir, sem olhar para mim, mas apenas para dentro de mim, onde as cordas de um instrumento musical se abanam sem pudor.
Alimento-me de vozes bonitas. Preciso delas para me sentir preenchida, tudo o resto é vazio. Preciso do arrepio, do sonho.
E danço como se ninguém estivesse a ver, canto como se a minha voz desse tanto prazer de ouvir como de fazer-se ouvir. Refugio-me somente nos sons, de olhos fechados, e o corpo solto, sem fios a movê-lo, sem passos ensaiados, apenas a preencher espaços da minha alma que não se conhecem, nunca se sentiram. A música abraça-me, está dentro de mim, à minha volta, repete-se e faz-me rodopiar, afagando o ar aqui e ali, dando sentido às cores da penumbra.
E de repente, vejo-me de cima. De fora. Sou uma caixinha de música, a que alguém decidiu dar corda. Obrigada...*

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