Ensaio sobre a confusão

"E eis que ela bate no vidro... trazendo a saudade"
(Pedido egoísta)
O dedos doridos de querer escrever e não conseguir. Mão na consciência vontade de chorar. Tantas coisas a meio. Desalinho papéis amontoados coisinhas por terminar. Nada completo... E desta visão, de novo a vontade de chorar. Engolida. Some-se lá para fora correndo. E grita-se abana-se e zanga-se com tudo o que mexe. E se não se zanga procura mimos carinho em todo o lado, mas agora não há tempo tanta coisa para fazer e ainda haviam de parar para pensar nela. E as festas são desajeitadas e rápidas, não atina ela ou os outros não consegue entender, fica irritada com tudo e de novo a vontade de chorar.
Se fossem só papéis por arrumar mas não é, a cabeça também não encontra lugar, o coração que não deixa de se agitar, o tempo as horas num desassossego, que não sabem parar não dão uma pausa.
As mãos inquietas querem ajudar mas perdem-se no caminho sem mapa ficam sem saber por onde começar, desistindo antes ainda de qualquer coisa.
O desconforto que é uma alma que parece não caber cá dentro em nós, como meias grandes demais que ficam enrugadas e desajeitadas, ou uma camisola tão justa tão justa que prende os movimentos.
Preciso de colo só me ocorres tu, ninguém me conhece como tu, fazes-me festinhas ainda antes de eu perceber como precisava delas. Aconchegas-me adormeces-me no teu colo antes de eu perceber que tenho sono. Penteias-me o cabelo sem eu ter reparado como ele estava despenteado, enfias-me umas meias antes de eu ter sentido frio.
Ninguém vê ninguém percebe ninguém reconhece eu preciso de colo de atenção, só tu me davas atenção, só tu me amavas como se costuma dizer incondicionalmente. Agora partiste e não posso como queria dizer-te que te amo e que nunca ninguém me tocou o coração como tu sabes tocar.
Há marcas em mim mais do que o sangue, os gestos as expressões as palavras e pequenos hábitos, em que te copio sem notar, neles te amo e te contenho, neles te recupero anjinho da guarda.
Colo procuro colo, onde me esconder e só me ocorres tu, o teu carinho a tua alegria a tua mão tão suave sempre tão doce, as únicas festinhas que me consolam que sabem mexer-me no cabelo, tu ensinaste-me a amar, a voar, e agora sem asas como voo?
Como a mana, recordo-te em cada par de meias confortável, quentinho, aconchegante que chega ao coração. Em cada festinha no cabelo, cada cor amarela ou sorriso feliz, paninho de cozinha, papoila ou canção daquelas antigas que nos enchem por dentro. Sim, eu canto até parecer que és tu, pergunto-me se é por isso que canto, é tão intenso mas é tão bom, a alma deixa de doer. Porque de repente és tu passarinho contente a cantar da cozinha, e eu deslizo até às escadas às escondidas de mansinho, e fico a ouvir-te como tantas vezes, a memória já se desgasta mas ainda te oiço passarinho feliz. Passarinho que foge se me souber aqui, por isso fico quietinha, a ouvir-te embalar-me o coração com essa luz...

Dá-me um bocadinho de luz que preciso, partilha-o um bocadinho mais...*

"Há gente que fica na história, da história da gente... (...) E eis que ela bate no vidro, trazendo a saudade..."
(obrigada polegar, por vires desbloquear algo que estava indefinido e desarranjado cá por dentro...)

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