Lugar. Cor.


Abre-se a porta e descobre-se qual é a sensação de nos embrenharmos na escuridão: olhar para a frente e parecer que nos estamos a ver de cima, a desaparecer no meio das sombras, a perder o contraste com a noite de repente, acabados de sair dum seio de luzes artificiais.
E no entanto, tudo é mesmo tão artificial, que parece haver algum alívio quando deixamos de conseguir ver-nos a nós mesmos.
Conforto-me cantando. Porque nada mais preenche. Parece haver um vazio, a que nada nem ninguém consegue dar cor nem significado. E ao escrever isto apercebo-me do chavão. Mas só agora o peso destas palavras me caiu sobre as costas. Só agora nos medimos mano a mano.
Há um vazio. Mas não há uma razão. A casa não está vazia de móveis, nem de cores, nem de coisas minhas, que amo e desejo cuidar. Simplesmente não consigo focá-las, identificá-las, mover-me para as cuidar.
Acontece que nos carregamos, sem saber para onde. À procura de uma porta em que nos faça sentido entrar. Em que pareça que vemos reflectida a porta do nosso coração, do nosso sonhar.
Volta-se para trás. Devagar. À procura do lugar onde eventualmente nos perdemos...*

Comentários

Anónimo disse…
gostei muito morzao, um dia vamos encontrar essa porta em que faça sentido entrar, até lá vamos vagueando por aqui e por ali... ;)

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