Abraço. Lugar

As pontas dos dedos geladas, desistentes a meio dos gestos. O sorriso embaraçado de quem conversa em silêncio na escuridão. Esperam a palavra do outro. O corpo rígido e os punhos fechados, ao mesmo tempo frio e insegurança.
Levanta a cabeça, encarando o céu de baixo, com os seus olhos verdes a brilharem, perdidos nas estrelas. Segura um cigarro amachucado no centro da boca, e uma espiral e fumo e vapor desenrola-se à frente da sua boca quando expele um bafo do vício para o ar, segurando o cigarro entre os dedos. Desfaz-se como uma nuvem difícil e certa, em direcção ao céu que os cobre. Parece um prenúncio de algo que vislumbraram na noite passada, quando ele a acariciou em segredo enquanto dormia. Um gesto que ele não controlou, e que ela não impediu. E que no dia seguinte parecia ter-se esfumado, quando eles evitavam olhar-se nos olhos. Não sabiam o que tinha acontecido: apenas que esse toque fora irresistível, tão irresistível como inesquecível. A sua boca ficara a milímetros da dela, conseguira sentir o seu bafo nos lábios, a chamá-lo. Mas resistira, por querer guardar aquele momento para sempre.
Nessa noite, sentados na rocha virada para o mar, os pensamentos susbtituíam as palavras. Ambos viam algo acontecer, à frente dos seus olhos. Não queriam desenrolar já o novelo desses sentimentos, pois isso implicava fazer alguém sofrer. Mas desde esse dia, precisavam de se tocar. Precisavam de sentir os pés enroscados debaixo da mesa, as mãos a roçarem, comprometidas, entre os bancos, longe dos olhares. E olhavam um para o outro até que algum terceiro olhar os interrompesse.
Agora, ele põe o cabelo negro para trás das orelhas e aproxima-se lentamente do seu cantinho na rocha. A cor de mel dos olhos dela, derretida a olhar para ele, não o engana quando se desvia, fingindo não querer vê-lo aproximar-se. Sorri num murmúrio, não querendo evitar o que vai acontecer. Ele coloca o braço em redor dela, um braço que treme tanto, com tanto medo de errar... mas nunca mais certo daquilo que quer.
Ela baixa o olhar das suas estrelas companheiras, fitando o chão por momentos. Uma reflexão de segundos, em que decide apenas deixar-se ir.
"Nunca beijei ninguém nesta rocha. Dá-me isso. Dá-me um beijo teu para eu poder recordar sempre que estiver aqui."
Não são precisas palavras. As palavras aqui mostrariam a realidade, e eles querem permanecer na fantasia. Ou na sua nova realidade: estão a apaixonar-se um pelo outro.
Ele aproxima-se dela, um rosto a medo. Ela treme, e ele aperta-a. Ela fecha os olhos para sentir esse abraço, um lugar onde desaparece e se esfuma em sonhos, como o fumo do cigarro.
Ele encosta a testa à sua, vibrando com a visão daquele rosto tão perfeito, emoldurado com aqueles caracóis loiros em que a sua mão se entrelaça. Aquele anjo sorridente nos braços dele, é a mulher da vida dele. E ao perceber isto, embora o coração queira explodir, todo o nervosismo desaparece juntamente com o resto do mundo, quando os lábios dele se fundem nos dela, para nunca mais se descolarem.

Comentários

Anónimo disse…
:D momentos deliciosos e inesqueciveis...
Olá,

obrigado pela visita e comentários :)
Parabéns por tuas lindas e sentidas palavras! Continua...

Fica bem...

Mensagens populares deste blogue

Aluga-se cantinho onde poder chorar

Longe do mundo... mas perto de ti!

E hoje é só.