Colagens...

Presa num momento...

Sento-me no autocarro, o fôlego ainda por recuperar, apenas por causa de uma minúscula corrida desde o metro até à paragem do autocarro. 19.00 era a hora de partida, e às 19.00 eu galgava os degraus do autocarro velho, já ligado e impaciente para partir, tal como o seu motorista.

Encostei a cabeça ao assento, atordoada pela respiração ofegante de cão que me caracteriza sempre que dou um passo mais longo.

E de repente, num desses ímpetos de respirar de uma só vez mais do que aquilo que cabe nos nossos pulmões, fui arrebatada por um cheiro familiar. Sabem aqueles cheiros tão familiares que nos trazem, colados a eles, fotografias detalhadas de momentos, de pessoas, de sensações?

Foi isso mesmo que este perfume me deu: um álbum inteiro de recordações, numa só inspiração!

Reconheceria aquele perfume em qualquer pele. Não me atreveria a descrevê-lo, há tantas palavras, mas nenhuma suficiente...

Num pulinho, o passado envolveu-me e levou-me dali. Voltei a estar agarrada às mais belas cartas de amor, afundei o nariz nas tuas camisas. Saboreei cada palavra de amor e recordei cada tarde de Verão, apressada e feliz, em que eu corria para os teus braços.

É parte disto que somos. Ou isto é parte de nós?

Grata, por ser invadida por estas emoções de saudade e sorriso, por me deixar apaixonar outra vez, recordar cada passo e chegar de novo aqui... ser capaz de tudo isto, através de uma essência.

E este homem... nada tinha a ver contigo. Mas aquele cheiro, era a tua essência, tinha o teu charme e a tua paixão nele contido.

Sorri durante a viagem, em cada pequeno gesto deste homem que me trazia mais uns quilómetros de viagem para o passado.

Viver das pequenas coisas... e estar grata por elas, seja qual for o seu desfecho.

Vim só dizer-te isso, não a ti, que não vais ler isto. Mas a quem vive destas pequenas grandes coisas.

Que a essência de um instante me roubou daqui, e me lembrou de ti.

E destas colagens todas de coisas, cheiros e sabores... chego eu.