Os três dias

Escolhemos momentos para viver, para sorrir e para existir o menos possível.
Temos dias sem importância, que discorrem como gotas de uma torneira apenas ligeiramente avariada, mas cuja avaria já conhecemos de cor e nos dá algum conforto. Já nos é familiar o som das gotas a tocarem na loiça, e sentimos a sua falta quando não está lá. É rotina, sim, mas é nossa. Conforta-nos e faz-nos saber que estamos em casa.
Eles vão beber café ao mesmo sítio, todos os dias. Ele entra à sua frente e pede dois cafés, um deles curto. Sabe que ela só gosta do café curto.

Há alturas e palavras que nos saem de uma boca com sorriso rasgado, apetece-nos beijar tudo e todos, especialmente o objecto do nosso afecto. E isso é bonito, tem um cheiro suave a perfume de verão, sem pretensões a ser mais nem menos: há alegria em ser quem somos, e apetece-nos gritar isso mesmo ao mundo!
"Fazes-me feliz, sabias?"
"Sabia! Mas podes dizer outra vez, que eu gosto tanto de ouvir..."

E há dias que existem sem que tenhamos gosto nisso. Só queremos esconder-nos no nosso abrigo e ficar lá a chorar, sem que ninguém nos oiça, até que pare de chover dentro de nós.
"Estás bem?"
"Estou..."
"Já percebi... anda cá."
E eles abraçaram-se. E o simples toque dos seus braços fê-la chorar como uma menina que há muito tinha deixado de ser...

Comentários

polegar disse…
os dias são todos diferentes. é bom quando se tocam em certos pontos. são preenchidos de um pouco de tudo. e arranjamos sempre nem que seja um café curto para lhes dar ligação, extensão.
essa nossa mistura é única.

e tu serás sempre uma menina :)
Anónimo disse…
fazes-me feliz, sabias!?

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