Vou de viagem...

Venho para te dizer que vou de viagem. Vou passear por esses cantos da costa alentejana onde nos apaixonámos.

Percorrendo esses pedaços de terra junto ao mar, vou bronzear as pernas e vou andar até me cansar, junto à beira-mar. Já sei que no primeiro dia vou apanhar um escaldão nas bochechas e no nariz, e que se vão rir de mim... não faz mal!


Vão doer as costas nas noites do campismo - sou teimosa demais para comprar um colchão como os vossos, porque acho que a Natureza tem de ser vivida em pleno - com picadas de melga e dores de costas e almofadas de improviso e tudo.


De manhã, quando ainda quiser enroscar-me à frescura de uma clareira, já o sol vai estar alto e não vou conseguir respirar dentro da tenda. Vou ter de sair à força, trôpega de sono, tomar um pequeno-almoço improvisado do carro e acordar alguém para ir para a praia.


Noites longas, a jogar às cartas, a rir alto, a beber um Mojito ou dois no Chili Bar. Ou a ser aldrabada no STOP ou no Scrabble. Não importa. Vocês arranjam sempre maneira de fazer batota...

E vou sentar-me nesses cantinhos que partilhámos juntos - de Porto Côvo até Aljezur -, no nosso banquinho, na nossa tenda, na nossa rocha, na nossa praia, nos nossos degraus, a rir e a relembrar como tudo aconteceu.

Como desde o primeiro dia não consegui resistir-te, fugir de ti. Não era o momento, mas quem é que determina qual é o momento certo? Ou a pessoa certa? Não sou dona de verdade nenhuma, não quero para mim a sabedoria da minha própria vida, sequer - quero vivê-la, só.

E assim vivo o nosso amor, que cresceu à velocidade dessa viagem pela costa alentejana, ao ritmo de um sabor doce, ao mesmo tempo um sabor a mar e a sol... É por isso que saboreio cada dia de viagem como se fosse o meu prato favorito. É por isso que anseio, nervosa e feliz, pelo momento de arrancar, de malas e bagagens, para dias dedicados a mim.

E nesses cantinhos cresci, à espera de alguém, que viesse sentar-se a meu lado e saborear o pôr-do-sol comigo, conversar sobre o dia de praia, pedir um conselho, ou simplesmente contar estrelas cadentes...

Nesses cantinhos me tornei numa alma nova, bêbeda de sonhos - em vez de acordar, sonhei mais. Enchi-me de cheiro a mar, a areia no vestido... E um dia olhei para o lado e não estava sozinha... estavas ao pé de mim, e dali não arredaste pé.

Anseio por matar saudades desses bocadinhos de vida, dessas pegadas que fomos deixando juntos, dia a dia, e que fazem parte de nós.

Venho para te dizer que vou de viagem. Estás pronto?