Mais uns Santos...

Muita gente. Demasiada, diria sem hesitar.

Mas não há pressas em amar Alfama, e um só cheirinho dela alimenta o sonho de uma vida inteira. Não sei porquê, é certo. Mas está lá, e vê-se em cada rua estreita, em cada janela cheia de flores, em cada escadinha escavada e desgastada pelo tempo. E pelas gentes. Que aquelas são ruas de gente humilde, de um povo estreito e frontal, claro e transparente. Gentes de quem eu orgulhosamente faço parte, que são um bocadinho de mim. Que me estão no sangue. Lisboa no meu sangue...

Orgulho tenho, em cada bocadinho do que sou, ou vou sendo. Espanha, Alentejo, Trás-os Montes... um bocadinho de cada sou, e Lisboa não é caso à parte. Lá também cresceu parte de mim.

E essa parte de mim vibra com o cheiro do manjerico, com os gritos das mulheres a puxar a brasa à sua sardinha, com as músicas populares que cresci a ouvir e a cantar. E com as janelinhas e as àguas furtadas, onde imagino histórias mil, que sinto até na pele como minhas.

E quando a noite chega e brilham as luzes e as cores, de mão na anca as senhoras, de copo na mão os rapazes, sou feliz, cantando e rindo, brincando como só naquele dia o faço.

Sinto-me desanimar com a confusão exagerada, o lixo, os empurrões e as bebedeiras que vão pralém da alegria de um copito de sangria a mais.

Mas nem isso me tira o cheiro de Alfama do corpo, da alma, do coração. O cheiro da Lisboa onde eu também cresci e que aprendi a amar... com todos os meus defeitos e qualidades, amo-a por todos os seus recantos escuros e lugares sonhados.

E aos meus companheiros de estrada, que mais uma vez unidos caminharam a meu lado neste dia... pelo terceiro ano, e pelos que se seguirão, obrigada. Por virem desvendar a paixão das noites de Santo António, rindo e dançando comigo!