Exercício de imagética no meio da confusão


Um cheiro profundo de sândalo na salinha fechada. As paredes brancas e os móveis estão mergulhados na cor líquida do sol de início do dia que entra pelas muitas janelas de caixilhos brancos.
O gato preto espreguiça-se no parapeito da janela entreaberta - um sorriso quase parece figurar-lhe o patusco focinho branco, alguém juraria. As cortinas verdes esvoaçam dos seus lados, trabalhadas pela brisa meiga. De vez em quando, ergue as suas botinhas brancas para elas.
Espreitando pela janela, vemos lencóis brancos, muitos, a esvoaçar e a deitar-se no ar, libertando o cheiro do sabão azul e branco. Olhando para a frente, um pomar com árvores carregadas de frutos - quase apetece esticar a mão para apanhar uma maçã, e sentar na relva a saboreá-la, na sombra deste momento.
Nada parece poder atrapalhar este mergulho na realidade. Aos ouvidos chega apenas o ronronar do gato, e muito desvanecido, de uma casa vizinha, chega o sussuro daquilo que parece ser uma alegre melodia de swing.
Sei que se descer aquelas escadas na casa em frente, estarei mesmo junto ao mar. Quase sinto os pedaços de onda a desfazerem-se no meu rosto, viajadas pelo vento. E quase sinto aquele cheiro envolvente a invadir-me os sentidos sem pedir, e a frescura da água salgada a arrepiar-me a pele. O seu azul profundo a fazer parte de mim.

Viro as costas à janela e fecho os olhos. Estou lá.
Que importa se o meu corpo está preso no meio da confusão da cidade, agora? Sei que basta fechar os olhos, ou talvez nem isso, e vou andando, para o meu destino favorito, com o sol à minha frente, a ditar o caminho...

Comentários

polegar disse…
muito bem... swing :P
muito bem... é em breve...
Wicahpi disse…
hey, don't tease me... :p
tem que ser assim, nas pequenas coisas... né? senão, como sobreviver?

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