Como se, de novo a primeira vez


Segredo sagrado... que tu me recordaste, me ensinaste de novo a viver.

Porque acho que o aprendemos quando somos crianças. Mas essa ingenuidade e alegria de viver são espezinhadas com o passar do tempo, reprimidas pela vida social. Pela pressa, pelo tempo que aos poucos começa a correr e não nos deixar parar para desfrutar...

Acordar. Tomar o pequeno-almoço. Correr para o baú dos brinquedos. Pegar no mesmo brinquedo de sempre, no favorito, no primeiro de todos os dias.

E no entanto... brincar com ele com o mesmo entusiasmo do primeiro dia. Senti-lo nas mãos como se ainda tivesse o plástico em que foi envolvido, e de novo o rasgar todos os dias.
Sinto que ainda não consegui descrever como deve ser... não consegui ainda fazer a justa homenagem ao que sinto, este "viver de novo pela primeira vez", todos os dias.
Hoje viste-me, talvez pela décima vez (ou mais) com o blusão azul. E como em todas as outras vezes, olhaste-me atentamente, e com um sorriso disseste: Pareces uma motoqueira!
E perante o meu sorriso envergonhado, acrescentaste pela décima vez (ou mais): Fica-te muito bem! És linda!

Não quero com isto fazer notar que te repetes! Quero antes sublinhar este exemplo perfeito da tua forma de viver: todos os dias olhas para mim como se de novo fosse a primeira vez! E isso é fantástico...
Ainda recordo com carinho o dia em que descobri que não era louca por sentir a mesma sensação várias vezes, como se fosse a primeira vez de novo!
Não sou louca porque tu sentes como eu... apuraste-me os sentidos!
O fascínio de tocar na folha de uma árvore com as pontas dos dedos, e de novo me fascinar com a sua textura!
Passar todos os dias pelo mesmo caminho, e todos os dias reparar numa flor; olhá-la como se fosse outra, que nunca tivesse visto antes.
Admiro-me com a beleza que a Natureza grita em cada pedaço de verde, em cada melodia de águas a correr, em cada pedra polida pelo rio, em cada paisagem longínqua, ainda que seja apenas uma serra cheia de casas. Mas o verde que luta por existir entre passeios, tijolos e cimento - esse - ainda me fascina.
E a dança das árvores num fim de tarde com vento? O reluzir das suas folhas com o sol parecem mãos dadas a bailar!
Um dia frio de sol ainda me causa arrepios; há qualquer coisa nestes dias que torna a Natureza ainda mais bonita!
E as papoilas? Todas as Primaveras, elas chegam devagarinho. E em cada Primavera que chega, a primeira papoila que os meus olhos vêem ainda me faz chorar! E quando os campos se enchem delas, fazem-me sempre sorrir, ainda que esteja só de passagem no autocarro.

E mais que tudo, o mar... esse lar que sempre me aconchegou nas minhas tardes de Verão. De novo, em cada Verão que se aproxima, sinto aquele friozinho na barriga ao chegar à praia. Como se fosse a primeira vez que vou de férias...
Ofereceste-me a mais bela praia do mundo! Partilha-la comigo todos os anos, com a mesma paixão da primeira vez!

E se fechar os olhos, consigo sentir-lhe a areia a enroscar-se entre os dedos dos pés, ouvir-lhe as ondas a entrar no meu corpo e fazer-me flutuar, ver aquela paisagem de cortar a respiração a invadir-me os sentidos, e o cheiro do mar e do teu sorriso... mas mais que tudo, sinto a gratidão e a paz a embalar-me o coração!
Obrigada...

Comentários

Anónimo disse…
adorei este texto... fico muito contente por pensares como eu :) adoro observar as coisas como se fosse a primeira vez e ás vezes como se fosse a ultima e observar todos os promenores... e tavas linda com aquele casaco. beijocas
Anónimo disse…
=) fantastico... tudo ... tu .. ele... voces...

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