Existência denunciada por uma dedada...


Dedadas cinzentas na minha janela denunciam presenças passadas no meu quarto. Percorro as quatro janelas que acendem o dia ao meu leito, em busca de algum passarinho pendurado no chorão, que espreita aos vidros da minha privacidade. Oiço-os cantar alegremente, quais caixinhas de música, enchendo o peito de segredos e de jóias, cartas de amor e promessas.
O sol percorre as folhagens da árvore, fazendo-as brilhar como se elas próprias dançassem coladas aos raios de luz!
Há um caminho a percorrer, nesta manhã ocupada de luz. Entretenho a minha própria cabeça com os planos, as coisas a fazer.
Dispo a roupa à cama, faço-a de limpo, sem nunca desprender o olhar da vida que se desenrola lá fora.
Sinuosas nuvens passeiam pela calçada azul do céu, enquanto as esculpo com o olhar. Entretanto, a manhã transformou-se num início de tarde, vagarosa de se mastigar, fresca e leve como o silêncio. E é assim, em silêncio, que desço à terra e acordo para ti. Estás a meu lado, sem que eu sequer tivesse dado por isso. Eras tu a dedada cinzenta percorrida nas janelas, esquecida mas no entanto gritante da tua existência. És a cor viva que nos inunda o quarto, ofendendo todas as outras cores existentes. Na música tranquila do teu sorriso baloiço-me, como uma menina pequenina a quem ofereceram um baloiço novo.
Pousas a tua mão sobre mim, com a serenidade de um abraço, mas com o efeito de uma bomba de arrepios no meu corpo inteiro...
Esse é o efeito do amor, a entrar pé ante pé num coração triste, e a gravar nele a sua marca, dizendo apenas: "cheguemos onde chegarmos, valeu a pena..."
Obrigada...

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Aluga-se cantinho onde poder chorar

Longe do mundo... mas perto de ti!

E hoje é só.